Mundo do futebol parte 1 - a Copa de 1970
Bate-papo de amigos no dia da decisão do Campeonato Estadual do RJ em 2011 (por opção, prefiro não lembrar o resultado...), e um colega meu citou uma característica que cultivo desde a adolescência: minha paixão por futebol, onde sempre quis aprender e conhecer mais do assunto. Para tanto, eu gostava de estudar casos de campeonatos antigos aqui no Brasil, ou em outras partes do mundo. Sendo que esse colega sempre me pergunta sobre um assunto clássico: as Copas do Mundo de Futebol. Ele sempre me pergunta da escalação da seleção inglesa da Copa de 1966, do técnico da Itália na Copa de 1938, entre outras peculiaridades. E gosto de responder não para me gabar, mas porque é nesse tipo de momento em que percebemos o quanto a história pode ser fascinante, embora manipulável...
Resolvi então juntar algumas historinhas colhidas aqui e ali sobre o assunto, e junto com o “meus jogos inesquecíveis”, vou citar fatos (quando não jogos), ora sobre as Copas, ora sobre outros campeonatos mundo afora que eu tenha acesso, mas que de forma geral, nem sempre estão na pauta do bate-papo de botequim, ou na roda de amigos. Se julgarem necessário alguma correção, acréscimo ou comentário, é só me escrever, certo?
E para começar o papo, vou falar hoje da Copa do Mundo de 1970.
Talvez venham a perguntar: que novidade tem isso Diogo? Todos sabemos que foi a Copa que o Brasil levou dando show, a última de Pelé, a melhor seleção brasileira de todos os tempos (eleita recentemente também o melhor time de futebol da história), etc... Sim, disso todos sabemos. Mas essa Copa ficou marcada na história dos mundiais (não só para o Brasil, mas para o mundo) por motivos ainda mais diversos...
Um deles: foi a Copa do Mundo que, por assim dizer, marcou o fim do futebol dito "romântico", aquele em que o profissionalismo, embora existisse, não caracterizava rentabilidade, nem para o atleta, nem para os demais envolvidos. Os jogadores se doavam quase que rigorosamente pela exaltação da pátria, ou em nível particular, pelo amor a camisa dos clubes em que jogavam. A partir de 1974, com a presença cada vez mais atuante da televisão e dos patrocinadores, o evento começou a ganhar o caráter comercial hoje mais vigente, com premiações polpudas por título ou por participação, placas de publicidade nas laterais do gramado, jogadores cada vez mais visados em seus clubes fora da Europa para jogarem no velho continente... Enfim, o orgulho nacional ainda estava em jogo, mas depois de 1970, impondo milhões em dinheiro na cara do gol...
Outro fato interessante: foi a primeira Copa realizada fora do eixo Europa-América do Sul. O México havia sediado com sucesso as Olímpiadas de 1968, e com isso, apesar do cunho de ser país de "terceiro mundo", tinha ganho respaldo internacional. Soma-se a isso o fato de que a FIFA, entidade máxima do futebol, desejava embutir cada vez mais ao torneio o âmbito global, primitivamente desejado por seu fundador, o francês Jules Rimet. E por outro lado, a Argentina (que disputou de forma acirrada com o México o direito de sediar o torneio) tivera, de outras anos, uma série de atritos com a entidade máxima do futebol (em 1938 e 1950, divergências sérias com a FIFA levaram a Argentina a boicotar esses Mundiais), o que a tornara ainda pouco amistosa para pleitos como esse. Some-se ainda o fato da Argentina estar em situação delicada em relação a situação política, uma vez que um golpe de estado militar afetou a democracia do país, com o afastamento do presidente Arturo Ilia, e a posse do general Juan Carlos Onganía no ano de 1966. Todo esse quadro fez a candidatura do México ganhar força, e assim, o país foi escolhido como sede da Copa do Mundo de Futebol em 1970.
Mas não há como negar: o terceiro, principal e o mais sedutor dos motivos dessa Copa ser marcante, é o fato de ela ser eleita a melhor de todos os tempos. E foi mesmo!!! Nunca se verá talvez uma Copa em que se possa dizer que "a nata" do futebol se revelou tão presente. O Brasil, claro, dispensa comentários, com Pelé, Rivellino, Gérson, Tostão, Jairzinho, Clodoaldo, Carlos Alberto Torres. A Inglaterra, então campeã mundial (e que armou polêmica desastrosa com os mexicanos acerca das águas a serem consumidas), estava melhor do que quando ganhou a Copa anterior (1966), tendo em suas linhas o legendário craque Bobby Charlton, o grande Bobby Moore, o artilheiro Hurst, os velozes Bell e Ball, além de outra lenda, o grande goleiro Gordon Banks. A Alemanha vinha com mais da metade do futuro time campeão da Copa de 1974, um grande time. Destaques absolutos para o grandioso goleiro Sepp Maier, a fera e artilheiro da Copa de 1970 Gerd Muller, o ponteiro Grabowski, o incansável Berti Vogts, o tanque goleador Uwe Seller, além de outra lenda do futebol: Franz Beckenbauer, eleito recentemente o melhor defensor da história do futebol. A Itália vinha com aquela que é considerada a última grande seleção de futebol já revelada pelo país (e também a última seleção amada por seus torcedores), tendo no time dois dos ex-melhores jogadores da Europa da década de 60 (Luigi Riva e Gianni Rivera), e ainda talentos natos do futebol como o goleiro Albertosi, o raçudo Tarcisio Burgnich, o lateral zagueiro Giacinto Facchetti, o talentoso Giancarlo de Sisti, o veloz e habilidoso Roberto Boninsegna, e mais uma lenda do futebol, Alessandro Mazzola (esse último, filho de outra lenda do futebol, de triste história, o grande Valentino Mazzola). E isso para não falar de grandes times que passaram pelo México, como o Uruguai, de Luis Cubilla e de Ladislao Mazurkiewicz (esse eleito o melhor goleiro da Copa). Como o Peru, dirigido pelo ex-craque brasileiro Didi, uma das gratas surpresas da Copa, de futebol vistoso, e que tinha como destaque outro Cubilla (o Teófilo). Além da Tchecoslováquia do artilheiro Petras, da Romênia (que segundo alguns críticos, fez o melhor jogo da Copa na derrota para o Brasil)... Enfim, uma literal constelação, que talvez só não tenha sido perfeita pela ausência da sempre talentosa Argentina (eliminada nas Eliminatórias justamente pelo Peru...).
Com uma constelação dessas, todos no melhor nível de seus talentos, não seriam poucos os jogos a lembrar: a inesquecível semifinal da Copa entre Itália e Alemanha Ocidental (4 x 3 para os italianos, outra hora nós falamos...), as quartas de final entre Alemanha Ocidental e Inglaterra (3 x 2 para os alemães), praticamente todos os jogos do Brasil (especialmente o 1 x 0 na Inglaterra na primeira fase), enfim sob esses e outros aspectos, foi a Copa de melhor nível técnico (até porque todos esses craques estavam no melhor de suas formas), cujas estrelas desfilaram o melhor futebol até então visto num Mundial, e que por isso, marcou para sempre a história das Copas. Até porque a melhor seleção desse inesquecível Mundial, venceu com autoridade todos os seus jogos, tendo feito jogadas de pura plástica em alguns deles (especialmente através de Pelé, o Rei do Futebol), e assim, deliciando-nos com mais do que títulos, com assombroso futebol, tendo quatro camisas 10 de seus clubes de origem no time principal, e já antevendo assim em parte, a modernização do futebol pioneirizada pela Holanda quatro anos depois, e marcando por assim dizer, o fim de uma era.
Hoje, dado esse excesso de esquemas táticos, esse excesso de jogadores pouco técnicos e de muito fôlego, essa globalização por vezes excessiva, que transforma cada vez mais os craques em robôs, cada vez mais estratégicos e menos criativos, e que empobrecem as grandes competições, como por exemplo os Mundiais, enfim, será possível voltar a se ver uma Copa do Mundo (ou mesmo uma grande competição) ao nível daquele inesquecível 1970? Apostas na mesa, por favor, rsrsrs...
E para finalizar, resumindo a beleza daquele singelo Mundial, três lances: acima, na primeira foto, o gol de Overath, na disputa do terceiro lugar entre Alemanha Ocidental e Uruguai (1 x 0 Alemanha). Em seguida, a maior defesa da história das Copas, realizada por Gordon Banks, no jogo em que o Brasil venceu a Inglaterra por 1 x 0. E por fim, abaixo, o vídeo daquele que foi considerado, segundo especialistas, o gol mais bonito da história das Copas (e claro, o mais bonito daquele Mundial). E importante, quando foram escrever a história desse gol, o filme oficial dessa Copa foi taxativo: "isso que os senhores estão vendo não é montagem de cinema, isso é real!!!". E em seguida, a BBC de Londres declarou o futebol brasileiro como sendo "de outro mundo"!!!
Abraços para os rapazes, beijos para as meninas, fui...
Diogo Jerônimo
Sou amigo, gosto de conversar, descontrair, relaxar. Se necessário, compartilho meu pouco conhecimento. Procuro mudar do mundo o que posso. Tento auxiliar, ser prestativo. Meus gostos são ecléticos, mas compreensíveis. Sou católico por definição, e vascaíno de coração. Curto passeios tranquilos. Amo minha família, mas gosto de tranqüilidade. Sou romântico, carente e sonhador, mas que prefere a solidão à loucura. Tenho fé em Deus, na verdade, no amor, na paz e no bem comum...