terça-feira, 6 de dezembro de 2016

"Que a mão esquerda não saiba o que a direita faz"


Por conta de toda comoção com o drama enfrentado pela Chapecoense, muitas ofertas de ajuda estão chegando pelas portas da Arena Condá. A grande questão parece ser aceitar o que é necessário ao clube e saber refutar o que não lhe acrescentará nada a longo prazo. Sim, porque a Chapecoense precisa de um planejamento a longo prazo, não de uma caridade que se evapora tão logo os olhares da mídia se distanciem.
Os atacantes Ronaldinho e Gudjohnsen (Ex-Barcelona, Ex-Chelsea e Pune City), respectivamente, por meio de empresário ou de forma pessoal, ofereceram seus préstimos ao time de Chapecó. Ainda que no campo da boataria, outro nome surgido é o do argentino Román Riquelme, que também teria se mostrado disposto a interromper sua aposentadoria e atuar em Santa Catarina. Apesar do gesto de aparente boa vontade, o que se pode notar é que os três jogadores, com idade muito superior a trinta e em franca decadência (ou hibernação), nada acrescentariam em termos de reconstrução.
                Atualmente sem clube, o treinador Levir Culpi ofereceu trabalho voluntário até o fim do Campeonato Catarinense. Embora a proposta seja muito generosa, a atuação pelo período de 180 dias não ajudaria na reconstrução de um padrão tático e a colocação nos trilhos de um time que saltará do papel nas próximas semanas. O mínimo de contrato que se poderia aceitar de um técnico, para que realmente uma missão seja deflagrada, é o espaço de um ano.
                Ivan Tozzi, o presidente em exercício do clube, é rápido em afirmar que busca profissionais que tenham comprometimento com as cores do time. Faz isso de maneira grata, mas de forma que fica claro o objetivo de retrabalhar com dignidade, sem a necessidade de um marketing exagerado para levantar um castelo de cartas ou de areia que cairá ao dissabor dos primeiros ventos ou dos ataques das ondas vindouras.
                Lembrando que a Chapecoense, quando iniciou sua projeção na elite do futebol brasileiro, era um clube com investimento modesto. Em 2014, sua folha salarial batia na casa de R$ 1, 3 milhão e um teto salarial de R$ 70 mil. Ainda ressaltando que Conca e Fred, jogadores do Fluminense na mesma época, embolsavam cerca de R$ 1 milhão cada um. E isso não mudou muito durante o período que antecedeu a fatalidade com o elenco do clube. Em 2016, a média salarial era de R$ 30 mil. Contrariando a filosofia dos sheiks árabes ou dos russos obscuros, esse valor formou um grupo coeso e disposto a fazer história com suor e com gana.

Uma solução lógica é aceitar a entrada das doações (jogos beneficentes, o leilão capitaneado por Felipe Melo na Internazionale, doações avulsas de jogadores e ex-jogadores, etc) e pinçar jogadores jovens que não venham sendo aproveitados nos times de grande porte da série A. Atlético-MG e Corinthians foram clubes que ofereceram suporte por meio de seu plantel, e ainda há rumores de outros que fizeram o mesmo tipo de oferecimento. E assim haveria material humano para moldar um time com o mesmo tipo de pensamento que norteou a caminhada da Chapecoense nesses últimos três anos. 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

O VERDE QUE DÁ ESPERANÇA!

Resultado de imagem para fotos da chapecoense

O dia 29 de novembro foi um dia muito triste para o futebol mundial. Principalmente para uma cidade de 210.000 habitantes, localizada no estado de Santa Catarina. Setenta e um passageiros foram vitimados naquele que é o pior acidente aéreo envolvendo uma delegação esportiva.
O sonho da Chapecoense foi interrompido pela queda do avião. Dias antes, o time de Chapecó havia conquistado de forma heróica, contra o perigoso San Lorenzo, o direito de buscar o título da Copa Sul-Americana. O time a ser batido passava a ser o Atlético de Medellín, uma das equipes de futebol mais sinuoso e atual campeão da América. A festa foi cancelada antes mesmo da chegada dos convidados. As primeiras notícias chegavam de forma desencontrada. O que aconteceu de fato? Quantas vidas seriam possíveis resgatar daquele dia? E o avançar da manhã de um dia do final de novembro relevou que era a morte do futebol que estava decretada.
No que seria um duelo entre alviverdes, a dignidade e humanidade com que agiram os colombianos é de se aplaudir de pé. Para os que não sabem, o Atlético Nacional (conhecido antigamente como Nacional de Medellín) passou anos com a mancha e a carga de ser atrelado à figura do narcotraficante Pablo Escobar. O mundo deu voltas e permitiu ao clube de Medellín oferecer um gesto magnânimo aos brasileiros. O Atlético abriu mão do título em prol do clube catarinense.
A lógica diria que os colombianos venceriam a decisão, pois eles têm mais time e maior envergadura em competições continentais. No entanto, a importância dos catarinenses estava consolidada depois de derrubar dois gigantes argentinos, o Independiente e o San Lorenzo.
A Chapecoense já não era mais uma mera desconhecida e muito menos entraria para demonstrar algum vestígio de medo. Tudo conspirava para uma grande decisão. Caio Junior aproveitou bem a base montada por Guto Ferreira e alinhou isso ao melhor período de sua carreira, e teve atletas com muito mais gana de jogar do que preocupados com status. A diretoria vinha fazendo um trabalho sério e competente fora das quatro linhas. Arrisco-me a dizer que, caso mantivesse a ordem, poderíamos ter, em menos de uma década, o nascimento de uma quinta força no sul do país. A queda de um transporte aéreo levou embora muito mais do que futebol.

Texto feito em parceria entre: Sergio Henrique Homem e  André Lima - 05 de Dezembro de 2016