Eu não levava fé.
A fé me faltou ainda mais quando vi a escalação inicial do Vasco. Um time que precisa erguer uma taça não pode entrar em campo com a escolta de 8000 volantes. Descontando as boas atuações defensivas de Guiñazu, Fellipe Bastos e Pedro Ken, Adilson Batista tinha que dar opções para agredir o adversário em seu campo de defesa. A melhor opção para o lugar do lesionado Everton Costa ficaria entre Bernardo e Montoya. Só o comandante vascaíno não enxergou o óbvio. Batista resolveu entrar com o velocista William Barbio, um jogador que tem apenas a velocidade como característica e esquece da bola quando corre. Não entendo. Para acabar de completar, Edmilson, uma das gratas surpresas vascaínas no carioca, se contundiu antes do apito inicial. Tragédia anunciada.
Por conta do resultado de quarta contra o Leon, o Flamengo entrou com a responsabilidade de fazer valer os vinte e cinco anos de supremacia em relação ao Vasco. A cultura imediatista do futebol e o amadorismo dos dirigentes pediriam algumas cabeças se o resultado fosse negativo. Jayme possivelmente puxaria essa barca com alguns nomes que serviriam de exemplo. Os jogadores rubro-negros entraram na faca nos dentes no início de jogo. Não foram superiores ao time cruzmaltino, que dominou boa parte das ações na primeira etapa, mas exibiram muita vontade.
Apesar de a melhor chance ter sido do Flamengo, o primeiro tempo foi bastante equilibrado. Não houve o lance extremo que fizesse o torcedor quebrar coisas de casa ou xingar o desafortunado que a desperdiçou.
O jogo só começou a tomar ares de decisão nas bisonhas expulsões de André Rocha e Chicão. A partir daí, Vasco e Flamengo tiveram que ajustar posicionamentos ou fazer substituições. E o jogo ficou bem melhor.
O Flamengo saiu perdendo bastante com a saída forçada do veterano zagueiro. Coube ao Vasco somente uma mudança de posicionamento de Fellipe Bastos. O Erazo o substituiu e quase determina diretamente números finais à partida. Foi o equatoriano que cometeu o pênalti sofrido por Pedro Ken e convertido por Douglas. Aliás, o meia Douglas fez uma partida bem aquém do que se espera como principal contratação do time. Perdeu bolas fáceis, não conseguiu dar continuidade aos contra-ataques e foi dominado por Amaral na maior parte do tempo.
A predileção por volantes do comandante vascaíno derrubou o Vasco. Ao invés de tentar prender a bola no campo adversário, no momento crucial, Adilson sacou o garoto Thalles e colocou o truculento Aranda em campo. Prato cheio para os deslocamentos de Paulinho e Everton. Deu no que deu. Após um escanteio conquistado, aos quarenta e cinco do segundo tempo, o Flamengo chegou ao empate. É verdade que Márcio Araújo estava adiantado. É verdade que se Rodrigo, que havia saído contundido após um choque com um jogador adversário, estivesse na área as chances de corte seriam imensas. No entanto, um "se" não levanta taças e nem consagra heróis. Vide as histórias de Cruijff, Zico e Puskas nas copas que disputaram. Apesar da minha descrença, o Vasco conseguiu se impor diante de um Flamengo, que apesar de igualmente limitado, como a maioria dos clubes brasileiros, tem um melhor material humano atualmente.
A derrota vascaína chega como o mito da derrota da miss Martha Rocha para a americana Miriam Stevenson, em 1954: foi apenas por duas polegadas.
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