No ano de 1982, o
Internacional-RS tinha em seu plantel um meia muito talentoso chamado Cléo. Acreditando
que o país exibia uma aura que tendia à liberdade, o atleta deu uma corajosa
entrevista para a Revista Placar, dizendo que tivera relações homossexuais
assumidas e tranquilas.
Quando deu a declaração,
o jogador já estava vendido para o Barcelona. A notícia caiu como uma bomba na
Espanha. Cléo acabou atuando apenas três meses pela equipe da Catalunha, logo cedendo
sua vaga de estrangeiro a um certo Diego Armando Maradona.
O meia passou a ser
avaliado mais pela sexualidade do que pela habilidade com a bola. Em julho de
1982, o jogador já dava mostras de ter se arrependido de mostrar sua vida
pessoal. “Quero que essa história de homossexualismo caia logo no esquecimento”,
disse Cléo, na ocasião de uma recusa de entrevista para a Revista Playboy. A
história jamais caiu no ostracismo. Além de ter recebido o maldoso apelido de
Farah Fawcett (uma renomada atriz da época), entradas ríspidas e demais provocações
passaram a ser parte do cardápio de suas jornadas nas quatro linhas. O
resultado é que a carreira só durou até os 28 anos, quando ele a encerrou por
conta de uma lesão no joelho.
Outro caso mais recente é
do versátil Richarlyson, revelado pelo Ituano e consagrado pelo São Paulo, o
meia/volante/lateral também passou por agruras semelhantes por conta de sua
suposta orientação sexual. No entanto, no caso de Ricky, não foi ele que
revelou qualquer detalhe íntimo.
No dia 26 de julho de
2007, o diretor palmeirense José Cyrillo Júnior, em um programa televisivo com
o apresentador Milton Neves deu a entender que Richarlyson era um jogador que ainda
não havia assumido sua homossexualidade. Atitude que rendeu um processo para
Cyrillo e muitas perseguições para Richarlyson. Perseguições que incluíram a
recusa de uma organizada tricolor em gritar o nome do jogador antes dos jogos.
E a mesma rejeição voltou a acontecer no Atlético-MG.
O último time de
Richarlyson foi o FC Goa, da India, treinado por Zico. Apesar de ele ter
colocado o interesse de clubes dos principais torneios, o atleta segue sem
destino definido para 2017. A única certeza é que Ricky seguirá ouvindo
desaforos no mundo homofóbico do futebol.
Na contramão de toda essa
barbárie, o futebol espanhol, em dezembro de 2016, através de quatorze clubes, manifestou
toda a sua solidariedade aos grupos gays e fez uma campanha contra a homofobia.
Capitães de clubes como Sevilla, Eibar, Leganés, Granada, Espanyol e Las Palmas
portaram braçadeiras com as cores do arco-íris para representar a causa. É uma
gota de água no meio desse deserto de preconceito, mas vale muito a intenção de
aliviar o calor da ignorância.
Recentemente,
o presidente Eurico Miranda, do Vasco da Gama, deu uma entrevista polêmica para
Antônia Fontenelle. Entre outros depoimentos pirotécnicos, o mandatário
vascaíno afirmou que “futebol é coisa de homem” e não deve ser apitado por
gays.
Lembramos ao presidente
cruzmaltino que o Vasco foi o clube que abriu as portas para as minorias em 1923.
Nunca discriminou ninguém. As afirmações de Eurico são contrárias ao conceito
de um esporte que tem a função de integrar. Os gays, as mulheres e quem mais
quiser podem e devem praticar qualquer função no meio futebolístico. Essas
colocações é que afastam os jogadores profissionais da ideia de se revelarem em
meio essencialmente machista e discriminatório. Apenas oito jogadores foram
capazes de assumir publicamente. E nem todos acabaram bem suas jornadas. Outros
têm receio de passarem pelo mesmo calvário que Cléo e Richarlyson.
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