“Eu vou lhe avisar/ o goleiro
não pode falhar”, já advertiam sabiamente os primeiros versos de “Goleiro (Eu
vou lhe avisar)”, de autoria do malemolente Jorge Ben Jor. E por qual motivo esse
homem não pode falhar? Ele é o homem que mais pode influenciar no resultado final
de uma partida. É o único que faz com que suas mãos virem armas na batalha
campal das quatro linhas. Muitos podem argumentar que o atacante tem esse mesmo
poder. Errado. Muitas coisas acontecem nos cento e cinco metros que separam um
gol do outro. Uma saída errada do gol, uma rebatida para a frente e um passe
equivocado nos pés do atacante adversário podem ser determinantes para um
resultado negativo. No entanto, o arqueiro também pode ser o responsável por
defesas miraculosas que acabam por fazer com que o torcedor o canonize em vida.
Principalmente se as defesas valerem títulos ou vitórias com valor de caneco.
A posição de número um
dos escretes canarinhos já geraram muitas polêmicas no passado. Homens foram demonizados
por lances decisivos (Barbosa/1950 e Júlio Cesar/2010) e criticados impiedosamente
por suposta deficiência técnica para ocupar o posto (Félix/1970 e Valdir
Peres/1982). E a impressão é que o período que veio após a Copa da França
deixou muito mais dúvidas do que certezas. Talvez essas dúvidas pudessem ser
dissipadas se Jefferson, do Botafogo, não tivesse sido preterido por tempo
entre os selecionáveis. Ou mesmo se Bruno, ex-Flamengo, tivesse se confirmado
como o grande jogador que era em seu clube.
Recentemente eu perguntei
nas redes sociais qual teria sido o melhor goleiro brasileiro que meus convivas
tinham visto em ação. O resultado obviamente excluiu da lista final a figuração
efetiva de nomes históricos como Marcos Carneiro de Mendonça, Gilmar dos Santos,
Barbosa e outros atuantes entre as décadas de 40 e a primeira metade dos anos 60.
Alguns deixaram que a paixão clubística gritasse em suas avaliações. Outros preferiram
praticar o esporte predileto do brasileiro, a chacota, e incluíram nomes
improváveis como Silvio Luiz (ex-São Caetano e Vasco), Maisena (ex-São Paulo e
Internacional) e o folclórico Juca Baleia (ex-Sampaio Correia).
Nomes expressivos como
Marcos, Raul Plassman, Paulo Victor(ex-Fluminense), Paulo Sérgio (ex-Botafogo,
Vasco, América e Seleção Brasileira de Futebol de Areia), Manga, Dida, Zetti,
Leão também figuraram na votação informal. Todos eles têm um valor especial
para a evolução de qualidade da posição e merecerão uma análise mais detalhada
em um futuro próximo.
Depois de muitos
palpites, o resultado não poderia ter sido, na minha opinião, mais justo do que
foi. Quarenta por cento das pessoas opinantes cravaram Claudio André Taffarel
como o melhor goleiro que viram em ação. Taffarel atuou pela seleção brasileira
de 1988 a 1998, tendo sido o recordista absoluto em sua posição, com 123
atuações pelo selecionado. Fora o número de jogos, o goleiro também foi
decisivo na conquista do tetracampeonato e em momentos-chave de torneios
sub-20, Copas América e as outras duas participações como titular nas Copas do
Mundo de 1990 e 1998. Apesar de ter sido conhecido como um grande pegador de pênaltis, a principal característica de Taffarel sempre foi a
excelente colocação e a frieza embaixo das traves ( Defesas de Taffarel ), fazendo com que dificilmente
ele fosse exigido a ponto de se esforçar ao extremo para fazer suas defesas.
Plasticidade só em casos de extrema necessidade.
Também há o fato de que o
defensor gaúcho foi o primeiro goleiro a transpor a fronteira europeia (jogou
no Parma, no Reggina e no Galatasaray) e a ter sua importância reconhecida como
um dos maiores de todos os tempos (a IFFHS o colocou como o décimo maior
goleiro da história). Além disso, ele ainda tem seu prestígio conservado em
alta conta pelos clubes brasileiros onde atuou, como Internacional e
Atlético-MG, sendo inclusive considerado como um dos maiores ídolos do colorado
gaúcho.
Colocadas todas as
honrarias e conquistas, fica parecendo que Taffarel só colheu glórias do futebol. A tarde de 25 de julho de 1993 desmente completamente a impressão de
que o goleiro só teve momentos felizes na seleção. Nesse exato dia, o arqueiro
viu a seleção perder a invencibilidade em eliminatórias de Copa do Mundo e
ainda fez um gol contra para a Bolívia, que venceu por 2 a 0 naquela ocasião. E
há uma listagem de outras falhas (Vejam Falhas de Taffarel ), provando que até mesmo os grandes
goleiros, discordando do grande Jorge Ben Jor, podem errar de vez em quando. Só de vez em quando.
Bom texto. Taffarel realmente é um monstro sagrado.
ResponderExcluirTaffarel era um criador. Adaptou os movimentos do jogador de vôlei e o modo como nesse esporte se olha para a bola ao futebol. Daí algumas defesas geniais de voleio. Gênio!
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