quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

O goleiro não pode falhar


“Eu vou lhe avisar/ o goleiro não pode falhar”, já advertiam sabiamente os primeiros versos de “Goleiro (Eu vou lhe avisar)”, de autoria do malemolente Jorge Ben Jor. E por qual motivo esse homem não pode falhar? Ele é o homem que mais pode influenciar no resultado final de uma partida. É o único que faz com que suas mãos virem armas na batalha campal das quatro linhas. Muitos podem argumentar que o atacante tem esse mesmo poder. Errado. Muitas coisas acontecem nos cento e cinco metros que separam um gol do outro. Uma saída errada do gol, uma rebatida para a frente e um passe equivocado nos pés do atacante adversário podem ser determinantes para um resultado negativo. No entanto, o arqueiro também pode ser o responsável por defesas miraculosas que acabam por fazer com que o torcedor o canonize em vida. Principalmente se as defesas valerem títulos ou vitórias com valor de caneco.
A posição de número um dos escretes canarinhos já geraram muitas polêmicas no passado. Homens foram demonizados por lances decisivos (Barbosa/1950 e Júlio Cesar/2010) e criticados impiedosamente por suposta deficiência técnica para ocupar o posto (Félix/1970 e Valdir Peres/1982). E a impressão é que o período que veio após a Copa da França deixou muito mais dúvidas do que certezas. Talvez essas dúvidas pudessem ser dissipadas se Jefferson, do Botafogo, não tivesse sido preterido por tempo entre os selecionáveis. Ou mesmo se Bruno, ex-Flamengo, tivesse se confirmado como o grande jogador que era em seu clube.
Recentemente eu perguntei nas redes sociais qual teria sido o melhor goleiro brasileiro que meus convivas tinham visto em ação. O resultado obviamente excluiu da lista final a figuração efetiva de nomes históricos como Marcos Carneiro de Mendonça, Gilmar dos Santos, Barbosa e outros atuantes entre as décadas de 40 e a primeira metade dos anos 60. Alguns deixaram que a paixão clubística gritasse em suas avaliações. Outros preferiram praticar o esporte predileto do brasileiro, a chacota, e incluíram nomes improváveis como Silvio Luiz (ex-São Caetano e Vasco), Maisena (ex-São Paulo e Internacional) e o folclórico Juca Baleia (ex-Sampaio Correia).
Nomes expressivos como Marcos, Raul Plassman, Paulo Victor(ex-Fluminense), Paulo Sérgio (ex-Botafogo, Vasco, América e Seleção Brasileira de Futebol de Areia), Manga, Dida, Zetti, Leão também figuraram na votação informal. Todos eles têm um valor especial para a evolução de qualidade da posição e merecerão uma análise mais detalhada em um futuro próximo.
Depois de muitos palpites, o resultado não poderia ter sido, na minha opinião, mais justo do que foi. Quarenta por cento das pessoas opinantes cravaram Claudio André Taffarel como o melhor goleiro que viram em ação. Taffarel atuou pela seleção brasileira de 1988 a 1998, tendo sido o recordista absoluto em sua posição, com 123 atuações pelo selecionado. Fora o número de jogos, o goleiro também foi decisivo na conquista do tetracampeonato e em momentos-chave de torneios sub-20, Copas América e as outras duas participações como titular nas Copas do Mundo de 1990 e 1998. Apesar de ter sido conhecido como um grande pegador de pênaltis, a principal característica de Taffarel sempre foi a excelente colocação e a frieza embaixo das traves ( Defesas de Taffarel ), fazendo com que dificilmente ele fosse exigido a ponto de se esforçar ao extremo para fazer suas defesas. Plasticidade só em casos de extrema necessidade.
Também há o fato de que o defensor gaúcho foi o primeiro goleiro a transpor a fronteira europeia (jogou no Parma, no Reggina e no Galatasaray) e a ter sua importância reconhecida como um dos maiores de todos os tempos (a IFFHS o colocou como o décimo maior goleiro da história). Além disso, ele ainda tem seu prestígio conservado em alta conta pelos clubes brasileiros onde atuou, como Internacional e Atlético-MG, sendo inclusive considerado como um dos maiores ídolos do colorado gaúcho.
          Colocadas todas as honrarias e conquistas, fica parecendo que Taffarel só colheu glórias do futebol. A tarde de 25 de julho de 1993 desmente completamente a impressão de que o goleiro só teve momentos felizes na seleção. Nesse exato dia, o arqueiro viu a seleção perder a invencibilidade em eliminatórias de Copa do Mundo e ainda fez um gol contra para a Bolívia, que venceu por 2 a 0 naquela ocasião. E há uma listagem de outras falhas (Vejam Falhas de Taffarel ), provando que até mesmo os grandes goleiros, discordando do grande Jorge Ben Jor, podem errar de vez em quando. Só de vez em quando.

2 comentários:

  1. Bom texto. Taffarel realmente é um monstro sagrado.

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  2. Taffarel era um criador. Adaptou os movimentos do jogador de vôlei e o modo como nesse esporte se olha para a bola ao futebol. Daí algumas defesas geniais de voleio. Gênio!

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