"Como explicar o inexplicável?". A pergunta a si mesmo de Júlio César durante a entrevista ao final do jogo deixa lacunas para que possamos pensar. Realmente foi inexplicável a derrota? Alguns vão começar a fazer milhares de teorias e outros irão dizer que os jogadores foram comprados. A verdade é que não houve nada disso. Perdemos na bola. Perdemos porque o nosso técnico Luiz Felipe Scolari foi superado pelo técnico alemão Joachim Low. Perdemos porque sentimos a pressão de estar perdendo uma semifinal em casa por 2 x 0 e não ter em campo nenhum jogador brilhante que pudesse mudar a história. A derrota veio porque tinha que vir. E talvez seja essa derrota nosso maior aprendizado.
O "apagão" brasileiro dentro de campo começou ainda no aquecimento. Ou melhor, durante a preleção, quando Felipão resolveu pela primeira vez ceder ao apelo popular e empurrar o time para frente contra a Alemanha. Ele foi teimoso em manter o esquema tático que usou durante toda a copa. Só se esqueceu que Bernard, por mais talentoso que seja, não chega nem perto da qualidade técnica e do peso que Neymar tem. Além disso, cometeu o mesmo erro que todos os técnicos brasileiros gostam de cometer: montou um time para jogar com e para um craque. Não estou desmerecendo nenhum jogador brasileiro. Acredito na qualidade de cada um deles, embora muito jovens. Mas não foi isso que foi pensado para esse time. Montamos um time com a seguinte premissa: na pior das situações temos Neymar. Ontem não tínhamos Neymar.
Todas as seleções que enfrentaram a Alemanha nesta Copa do Mundo jogaram recuadas, conhecendo o potencial do time bem entrosado de Joachim Low. Apenas duas exceções: Portugal e Brasil. Ambas com o mesmo erro. Ambos os times montados para seus craques.
A Alemanha tem um futebol de superação e de entrega. Seus jogadores, por mais que sejam habilidosos, não jogam para um craque. Eles jogam para um grupo. Fazem o que deveríamos ter feito. Tocam a bola, pensam e são decisivos como grupo e não individualmente.
Felipão achou que conseguiria surpreender o time adversário escalando Bernard para jogar nas costas dos laterais alemães e saindo com velocidade, mas perdeu o jogo e foi humilhado porque perdeu o meio campo para o time mais entrosado e mais bem montado, taticamente. Se começasse o jogo com Paulinho, Willian ou Ramires, suas chances seriam evidentemente maiores. Talvez perdêssemos, talvez a torcida reclamasse que o time se acuou, mas teríamos ao menos uma chance de conseguir encaixar uma boa bola ou de resolver na angustiante disputa de pênaltis.
Para agravar a nossa triste situação, temos uma seleção brasileira que não está acostumada a jogar em casa. Não está habituada a ser cobrada. Nossos jogadores não atuam aqui, todos jogam fora do país. Podemos excetuar aí o atacante Fred, mais cobrado entre todos. Mas Fred é o protagonista do Fluminense e tem a torcida quase sempre ao seu lado.
Fred, por sua vez, não tem tanta culpa quanto parece. O que o jogador apresentou na Copa do Mundo foi muito similar ao que apresentou na Copa das Confederações. O problema foi que o time jogou diferente e não conseguiu dar ao atacante as oportunidades de gol. Não penso que ele seja o melhor dos centroavantes mas não temos ninguém melhor do que ele para essa posição no momento. O futebol brasileiro deixou de produzir atacantes de qualidade, se adequando ao estilo europeu de caneleiros que sabem colocar a bola para dentro.
Desde sempre temos a certeza apenas de uma coisa. Não sabemos perder. Nós, brasileiros, buscamos sempre uma desculpa, uma possível explicação ou um culpado para justificar as nossas derrotas em tudo. Se não temos uma boa política, a culpa é da ditadura. Se não somos uma nação desenvolvida, a culpa é dos portugueses. Sempre nos isentamos das responsabilidades. O problema é que, depois de ontem, com o 7 x 1 alemão no Mineirão, não é possível encontrar nenhuma explicação. Estamos órfãos de algum culpado. O árbitro não foi ordinário e não foi responsável por nenhum dos gols do adversário. Não tivemos nenhum gol ou lance de pênalti ignorado pela arbitragem. E mesmo que tivéssemos, não teria mudado em nada o resultado final do jogo.
Perdemos. Fomos humilhados. Mas não temos ninguém a culpar e não temos como explicar. A explicação, na verdade, é a mais dura possível. Precisamos trabalhar mais. Precisamos de mais entrega, precisamos melhorar o nível do nosso futebol. Nossos clubes atolados em dívidas só pensam em criar jogadores para vender para a Ucrânia, para a Arábia, para a Rússia, o Japão. Não temos mais um futebol forte.
Por um lado foi boa essa derrota. Aprendemos que temos que resolver na bola e temos que ser humildes. Isentamos agora Barbosa e outros tantos que sofreram em 1950. Eles perderam, assim como esses de agora perderam, porque no futebol alguém tem que perder.
Rapidinhas:
- É com pesar que ontem vi torcedores rubro-negros celebrando a vitória da Alemanha. Esses justificam que torceram porque a camisa era vermelho e preta e era uma homenagem (Marketing) ao Flamengo. Desculpa mas acho tão mesquinho isso que não muito a dizer...
- Felipão ser demitido não muda nada. A ideia de continuidade nessa seleção era para ser mais importante. Felipão está longe de ser um técnico ruim. Ontem não teve um bom dia e não escalou bem. Acredito que quem vier deve ficar a frente desse time até o final da próxima copa.
- Uma copa no Brasil sem a seleção jogando no Maracanã é algo simplesmente ridículo. Demonstro minha revolta pela organização não ter colocado um dos jogos da primeira fase dentro do Maracanã.
- Não adianta agora montar uma seleção para ficar fazendo excursão na Europa, na África ou nos Estados Unidos. Temos 12 estádios belíssimos para serem utilizados. Espero sinceramente que nossos dirigentes aproximem de vez essa seleção de seu povo e tragam os amistosos preparatórios para cá e os jogos das eliminatórias de copa para o Maracanã também (duvido muito!!)
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