Felipe Melo foi revelado
no ano de 2001, nas categorias de base do Volta Redonda. No entanto, ele só apareceu
profissionalmente quando foi contratado pelo Flamengo e promovido aos poucos à condição
de titular ao longo de 2002. Naqueles tempos, Melo atuava como terceiro ou
quarto homem de meio, o que significava que ele tinha que participar ativamente
do processo de criação da equipe. E havia quem acreditasse que ele seria a
solução para suprir um time que tinha Petkovic ou Alex nessa função. Acabou revezando
a titularidade com o folclórico Fábio Baiano.
Ao longo de sua carreira,
a vitalidade do atleta sempre o colocou em uma condição mais de transpiração do
que de criatividade. Embora não fosse a tônica de seu repertório, as soluções acima
da média podiam surgir de seus pés. Na condição de meia de criação, o jogador
teve boas passagens por Flamengo (inclusive o atleta ficou conhecido no cenário
nacional por ter feito, contra o Internacional, o gol que salvou o rubro-negro
do rebaixamento em 2001) e Cruzeiro e uma não tão boa pelo Grêmio. Melo achou o
seu lugar em campo quando, em sua longa trajetória no futebol europeu, foi
encaixado para cumprir a função de volante. E fez boas temporadas na
Fiorentina, no Juventus e no Galatasaray.
Desde então, o jogador
sofre críticas por ser violento em campo. Ele não deixa de ter os seus momentos
mais pesados ou excessivos, mas eu enxergo Felipe Melo muito mais violento com
as palavras e atitudes extracampo do que nas quatro linhas. Aliás, o jogador é
o último dos moicanos na prática do “Talk Trash” futebolístico. Em uma função
que já teve Romário, Edmundo, Túlio, Renato Gaúcho, o palmeirense se firma como
um criador de polêmicas (ou um promotor de espetáculos, entendam como quiserem)
imbatível para a régua dos dias atuais. Só em 2017 ele já espinafrou Neto e
Müller, insuflou a Libertadores com um tapa hipotético em um uruguaio (que teve
seus reflexos no segundo duelo entre Palmeiras e Peñarol, pela Libertadores) e
rebateu pessoalmente as críticas da mídia. Para uma época em que tudo causa
choque, Felipe Melo soa como um estrangeiro no mundo do politicamente correto.
Jamais classificarei Melo
como um craque do mundo da bola, mas o volante tem muitas qualidades. E poderia
perfeitamente ter prestado serviços à seleção por muito mais tempo. Talvez não
o tenha feito por causa de sua inconstância emocional. Não fosse o erro contra
a Holanda, em 2010, e ele teria sido como um dos melhores jogadores daquela
seleção de Dunga. O jogador saiu da Copa com 97,7% de passes certos e foi um
dos campeões de desarmes. E isso continua aparecendo no Palmeiras, seu clube
atual, onde, só no Paulistão, ele tem 2 gols, 81,6% de desarmes corretos, 5
assistências e um alto índice de lançamentos corretos. Ou seja, é um jogador
que tem boas características para se tornar essencial ao padrão de jogo de uma
equipe e que enverga com destreza e vibração o manto verde.
Em uma de suas
declarações impróprias e sem base, o comentarista e agora humorista (?) Neto
disse que Felipe Melo “é um jogador comum para medíocre”. Discordo radicalmente
do autointitulado craque. É possível chamar o volante de qualquer coisa, exceto
dizer que ele é um jogador comum. Seja no gramado ou nas coletivas, o palmeirense
é alguém que passa longe da mesmice vigorante no futebol brasileiro. O politicamente
correto só serve para a quermesse da igrejinha de bairro.