sexta-feira, 28 de abril de 2017

Quem é Felipe Melo?


Felipe Melo foi revelado no ano de 2001, nas categorias de base do Volta Redonda. No entanto, ele só apareceu profissionalmente quando foi contratado pelo Flamengo e promovido aos poucos à condição de titular ao longo de 2002. Naqueles tempos, Melo atuava como terceiro ou quarto homem de meio, o que significava que ele tinha que participar ativamente do processo de criação da equipe. E havia quem acreditasse que ele seria a solução para suprir um time que tinha Petkovic ou Alex nessa função. Acabou revezando a titularidade com o folclórico Fábio Baiano.
Ao longo de sua carreira, a vitalidade do atleta sempre o colocou em uma condição mais de transpiração do que de criatividade. Embora não fosse a tônica de seu repertório, as soluções acima da média podiam surgir de seus pés. Na condição de meia de criação, o jogador teve boas passagens por Flamengo (inclusive o atleta ficou conhecido no cenário nacional por ter feito, contra o Internacional, o gol que salvou o rubro-negro do rebaixamento em 2001) e Cruzeiro e uma não tão boa pelo Grêmio. Melo achou o seu lugar em campo quando, em sua longa trajetória no futebol europeu, foi encaixado para cumprir a função de volante. E fez boas temporadas na Fiorentina, no Juventus e no Galatasaray.
Desde então, o jogador sofre críticas por ser violento em campo. Ele não deixa de ter os seus momentos mais pesados ou excessivos, mas eu enxergo Felipe Melo muito mais violento com as palavras e atitudes extracampo do que nas quatro linhas. Aliás, o jogador é o último dos moicanos na prática do “Talk Trash” futebolístico. Em uma função que já teve Romário, Edmundo, Túlio, Renato Gaúcho, o palmeirense se firma como um criador de polêmicas (ou um promotor de espetáculos, entendam como quiserem) imbatível para a régua dos dias atuais. Só em 2017 ele já espinafrou Neto e Müller, insuflou a Libertadores com um tapa hipotético em um uruguaio (que teve seus reflexos no segundo duelo entre Palmeiras e Peñarol, pela Libertadores) e rebateu pessoalmente as críticas da mídia. Para uma época em que tudo causa choque, Felipe Melo soa como um estrangeiro no mundo do politicamente correto.
Jamais classificarei Melo como um craque do mundo da bola, mas o volante tem muitas qualidades. E poderia perfeitamente ter prestado serviços à seleção por muito mais tempo. Talvez não o tenha feito por causa de sua inconstância emocional. Não fosse o erro contra a Holanda, em 2010, e ele teria sido como um dos melhores jogadores daquela seleção de Dunga. O jogador saiu da Copa com 97,7% de passes certos e foi um dos campeões de desarmes. E isso continua aparecendo no Palmeiras, seu clube atual, onde, só no Paulistão, ele tem 2 gols, 81,6% de desarmes corretos, 5 assistências e um alto índice de lançamentos corretos. Ou seja, é um jogador que tem boas características para se tornar essencial ao padrão de jogo de uma equipe e que enverga com destreza e vibração o manto verde.
Em uma de suas declarações impróprias e sem base, o comentarista e agora humorista (?) Neto disse que Felipe Melo “é um jogador comum para medíocre”. Discordo radicalmente do autointitulado craque. É possível chamar o volante de qualquer coisa, exceto dizer que ele é um jogador comum. Seja no gramado ou nas coletivas, o palmeirense é alguém que passa longe da mesmice vigorante no futebol brasileiro. O politicamente correto só serve para a quermesse da igrejinha de bairro.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

OS OUTROS CLÁSSICOS DO BRASIL: "COME-FOGO"

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FONTE:jornaldaregiaosudeste.com.br

                               




É o clássico disputado na Cidade de Ribeirão Preto entre o Comercial F.C. e o Botafogo F.C. . O cronista esportivo Lúcio Mendes publicou no jornal Diário da Manhã que o jogo entre os dois principais times locais seria "um autêntico Come-Fogo!" no dia  9 de novembro de 1954.


CONFRONTOS:

Clássicos disputados:  167

 - Botafogo: 61 vitórias e 212 gols marcados. Maior goleada: 5x0 em 1955
-  Empates: 57
- Comercial: 52 vitórias e 208 gols marcados. Maior goleada: 8x0 em 1918


 RIBEIRÃO PRETO: “A Califórnia Brasileira”

Localizando-se a noroeste da capital do estado (São Paulo-SP) distante cerca de 315 km. Ocupa uma área de 650,916 km², tem sua população estimada pelo IBGE em 674 405 habitantes em 2016. Ribeirão Preto foi fundada em 1856, neste período a região recebia muitos mineiros que saíam de suas terras já esgotadas para a mineração e procuravam pastagens para a criação de gado. No começo do século XX, a cidade passou a atrair imigrantes, que foram trabalhar na agricultura ou nas indústrias abertas na década de 1910. O café, que foi por algum tempo uma das principais fontes de renda, se desvaloriza a partir de 1929, perdendo espaço para outras culturas e principalmente para o setor industrial. Na segunda metade do século XX foram incrementados investimentos nas áreas de saúde, biotecnologia, bioenergia e tecnologia da informação, sendo declarada em 2010 como "polo tecnológico".


COMERCIAL F.C.: “Leão do Norte”
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FONTE: A Cidade ON 


Fundado em 10 de Outubro de 1911 e de acordo com registros históricos, o grupo de comerciantes iniciou a reunião logo após o expediente comercial da cidade, que se encerrava as 20 horas. Após uma madrugada de debates, os presentes assinaram a Ata da reunião de fundação do novo clube ribeirão-pretano de futebol no amanhecer do dia 11 de outubro, mas, pelo inicio da reunião, os presentes concordaram em manter a fundação do clube e a data da Ata em 10 de outubro de 1911.

Ficou conhecido também como “Leão do Norte” devido uma famosa excursão ao norte e nordeste brasileiro, em maio e junho de 1920, onde permaneceu invicto. 
Centenário e tradicional no futebol paulista, já conquistou importantes feitos, como a quarta colocação no torneio em 1966, rendendo-lhe o título do interior na época, além de participações na elite nacional. 

A Grande Depressão dada pela quebra da Bolsa de New York em 1929, causou grandes danos ao mercado mundial. Os cafeicultores da região de Ribeirão Preto foram diretamente afetados, o que gerou problemas ao Commercial, que dependia do dinheiro dos ‘’Coroneis do Cafe’’. Em 3 de abril de 1953 começou oficialmente a mobilização pelo retorno do Commercial, quando anúncios públicos convocavam os torcedores para causa.
Após várias reuniões, em 8 de abril de 1954 foram eleitos a nova diretoria do Commercial, que mobilizaria o retorno do clube, que era presidida por Oscar de Moura Lacerda. O nome do clube foi atualizado, passando de Commercial Football Club para COMERCIAL FUTEBOL CLUBE. Houve ainda, a fusão com o Paineiras Futebol Clube, para que o Comercial garantisse sua vaga e inscrição na Federação Paulista de Futebol (que ainda não existia quando o Comercial foi paralisado).

GRANDES JOGADORES: Mauricinho, Diego Ribas, Leão, Jair Bala, Alvino Grota, João Plama, Zico, Orestes Moura Pinto, Augusto Bertone, Marcio Ambrósio, Macena, Piter, Marco Antonio e Amaury.


ESTÁDIO 
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FONTE: globoesporte.com


O Estádio Doutor Francisco de Palma Travassos, também conhecido como Estádio Palma Travassos, Jóia de Cimento Armado e mais recentemente como “La Bafonera” (em alusão a 
La Bombonera). Segundo o Cadastro Nacional dos Estádios de Futebol, publicado pela CBF em 2012, a sua capacidade máxima é de 34 400 pessoas (mais a capacidade de 2 mil pessoas dos camarotes), mas atualmente possui capacidade para 17 775 pessoas. Foi também o primeiro grande estádio da região de Ribeirão Preto.


BOTAFOGO: “ORGULHO DE RIBEIRÃO”

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FONTE: Botafogo Futebol Clube

No começo do século XX, a cidade de Ribeirão Preto tinha disputas bastante acirradas entre clubes de futebol. Cada bairro era representado por ao menos um clube. Na Vila Tibério, eram três: União Paulistano, Tiberense e Ideal Futebol Clube. Por conta disso, o bairro nunca conseguia alcançar bons resultados nos campeonatos disputados na cidade. Em 1918, representantes do Ideal, através de reuniões realizadas num local onde hoje encontra-se o "Bar Piranha", propuseram uma fusão dos clubes do bairro. Além dos integrantes das diretorias dos três clubes, participaram também funcionários da antiga Estrada de Ferro Mogiana e da Companhia Antarctica Paulista.
Houve um consenso com relação à formação de uma nova agremiação que iria representar o bairro, mas na hora da escolha do nome não se chegava a uma conclusão. Após acaloradas discussões, um dos membros teria dito: "Ou vocês definem logo o nome ou então 'bota fogo' em tudo e acabem com essa história..." Isto acendeu a ideia de todos e o nome do clube teve uma definição inesperada. A ameaça incendiária do dirigente acabou ajudando na escolha do nome. A proposta foi aceita e, em 1918, surgiu o Botafogo Futebol Clube.

GRANDES JOGADORES: Raí, Sócrates, Zé Mário, Boiadeiro, Geraldão, Baldocchi, Diego Alves, Doni, Palhinha, Chicão, Mario Sergio, Cicinho e Paulo Egídio. 

ESTÁDIO 
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FONTE: Rádio 79


O estádio já chegou a receber 60 mil torcedores em vários jogos. Hoje conta com capacidade para 50 mil pessoas segundo no site do clube, mas teve sua capacidade reduzida por questões de segurança para 29.292 torcedores . O estádio foi inaugurado no dia 
21 de Janeiro de 1968, quando o Botafogo de Ribeirão Preto goleou por 6 a 2 a Romênia. Sicupira, jogador do Botafogo, foi autor do primeiro gol no estádio. O nome Santa Cruz refere-se ao bairro onde o estádio foi construido, o Santa Cruz do José Jacques. É um dos maiores estádios particulares do Brasil, sendo o trigésimo sétimo do mundo, com uma capacidade de 50 mil torcedores.





CURIOSIDADES:

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FONTE: Blog Futebol e Arte















- Em 1974, o Comercial quebrou um tabu de sete anos e nove meses ao vencer o rival Botafogo FC, e pela primeira vez no estádio Santa Cruz. O placar do jogo foi de 2 a 1 para o Comercial, com gols de Davi e Jader para o Leão. Sócrates marcou para o Botafogo. O time ainda realizou outras façanhas naquela década;

- Em 1977, o Comercial conquistou um título em cima de seu maior rival, o Botafogo FC. Na ocasião nenhuma das equipes de Ribeirão Preto disputavam o Campeonato Brasileiro. Garantido na primeira divisão do Campeonato Brasileiro de 1978;
- Diego Ribas ( atual jogador do Flamengo) e Emerson Leão iniciaram suas trajetórias no futebol jogando pelo Comercial;
- Comercial já colocou 3 jogadores na seleção brasileira: Amaury ( atacante), Marco Antônio ( meia) e Piter (defensor). O Botafogo colocou 2 jogadores: Zé Mario e Sócrates;
- O único Come-fogo não disputado em Ribeirão Preto ocorreu a 21 de março de 1965, na cidade de Goiânia, terminando em 1 a 1;
- O Estádio do Botafogo,  Santa Cruz, recebeu duas vezes a final do Campeonato Paulista, em 1995 (Palmeiras x Corinthians) e 2001 (Botafogo x Corinthians );
- A média de jogadores revelados pelo Botafogo que atuaram pela Seleção Brasileira em Copas é superior a muitos clubes grandes, como Palmeiras e Atlético-MG. Ao todo foram sete convocações: Tim (1938), Baldochi (1970), Sócrates (1982-1986), Raí (1994), Cicinho (2006) e Doni (2010);
- Os Jogadores Sócrates, Raí, Zé Mario e recentemente o goleiro Diego Alves, foram convocados para a Seleção Brasileira de futebol ainda jogando pelo Botafogo, sendo que Diego Alves teve sua primeira convocação aos 18 anos em 2005 ainda na base do Botafogo. Zé Mário foi o primeiro jogador de um clube no interior do Brasil a ser convocado para a Seleção Brasileira de Futebol. Em exames de rotina os médicos à serviço da Seleção brasileira, descobriram que estava doente (Leucemia);
- O Botafogo tem a maior torcida da sua região com cerca de três milhões de habitantes, e detém 68% dela comprovadamente (pesquisa realizada pela Brunoro Sports em 1998).


Sergio Henrique Homem





quarta-feira, 26 de abril de 2017

"Fair Play"


Em 12 de julho de 1998, aos 30 minutos do segundo tempo, com o jogo final em 2 a 0 para a França, o meia Rivaldo decidiu devolver a bola para os oponentes. O resultado disso foi que Edmundo quase agrediu o autor da cortesia. Comentando o jogo para a Rede Globo, Romário fez eco à fúria do animal e ainda duvidou da contusão de Zidane, que estava caído no gramado. Recentemente, no programa Bola da Vez, da ESPN, o baixinho voltou a criticar o fair play, mais especificamente em uma situação envolvendo Rodrigo Caio e Jô. Pelo menos a distância de quase vinte anos nos permite ver que Romário é fiel às suas convicções.
O ano de 2014 arquivou um lance bem inusitado. Um jogador do Dinamo Tbilisi, da Georgia, se contundiu e necessitou que o jogo fosse parado. O rival jogou a bola para que isso acontecesse. No entanto, quando foi devolver o gesto, o meia Xisco Muñoz, do Dinamo, deu um chutão e encobriu o goleiro do outro time. Gol involuntário. A solução foi deixar que o adversário fizesse o gol de empate para reparar o acidente.
A expressão inglesa “fair play” quer dizer jogo limpo. Isso se encaixaria de várias maneiras no mundo do futebol. Poderíamos afirmar que é jogo limpo, por exemplo, preservar a integridade física do colega de profissão, devolver a bola depois de um gesto de solidariedade, socorrer o adversário em um acidente e manter a esportividade diante de resultados adversos. E nem sempre é o que vemos no mundo das quatro linhas. Por esse motivo, um gesto como o de Rodrigo Caio, zagueiro do São Paulo, que informou o juiz sobre uma questão que o desfavorecia, é tão incomum. Deveria ser regra, coisa corriqueira.
Segundo informações da mídia, observamos apoio e descontentamento dentro do próprio São Paulo. Alguns jornalistas informaram sobre o ataque de fúria de Rogério Ceni depois do intervalo, quando o tricolor já perdia por 2 a 0. E também há a declaração de Maicon, que afirmou preferia ver a mãe do adversário do que a dele, em desaprovação ao gesto de seu companheiro de zaga. O destempero se ampara no fato de que Jô estaria suspenso se Rodrigo não tivesse alertado o juiz. Como em uma tragédia grega, o autor do gol do Corinthians (em impedimento) foi Jô. Depois disso, a imprensa pediu a Ceni que dissesse se Jô teria que ter fair play no lance. Insinuavam que o atacante teria que se acusar na irregularidade. Seria possível? Ou você pensa que um jogador seja capaz de medir um lance de centímetros de infração em todos os lances equivocados?
A verdade é que os dirigentes, torcedores, a mídia e jogadores deixaram que o futebol virasse uma batalha campal. Eu não acredito que o futebol seja um mero esporte, mas não creio que cada jogo e cada lance controverso tenha que ganhar ares de batalha entre Trump e Kim Jong-Un. O esporte bretão necessita de uma leveza bem maior.
Também não é saudável se render ao lado extremo do politicamente correto. Os gols de qualquer tipo (exceto com a mão), um drible desconcertante, canetas, balões e o drible da foquinha (lembram do Kerlon?) são parte do repertório do futebol como arte. E tem que esbraveje contra isso e contra certos tipos de comemoração. Garrincha não se criaria nesses mundos alternativos que o politicamente correto extremo gera. Ser desonesto de forma deliberada é que não faz bem ao mundo do futebol. Mais Rodrigos Caios, menos Del Neros.