Assim
como possui a capacidade de gerar craques para o mundo da bola, o Brasil sempre
foi um berço inesgotável para jogadores tarimbados na arte da confusão. Caso
seja solicitado que se enumerem alguns nomes, os mais jovens citarão, sem
pestanejar, três atletas experientes que agora se encontram, respectivamente,
nos elencos da Ponte Preta e do Vasco, Rodrigo, Emerson Sheik e Luis Fabiano.
O
zagueiro Rodrigo se notabilizou pelas provocações que costuma fazer aos
adversários, dentro e fora de campo. Além disso, é um jogador que costuma
exercer uma influência negativa nos elencos que integra. A verdade é tanta que
a primeira providência tomada por Milton Mendes, o técnico novo do Vasco, foi
tirar-lhe a faixa de capitão e, muito provavelmente, iniciar o processo de
fritura que o faria assinar com a Ponte Preta para a disputa da série A 2017.
Luis
Fabiano, em seu período no São Paulo, ganhou a fama por não aceitar
passivamente as marcações dos árbitros, por simulações, faltas bizarras e uma
briga generalizada contra o River Plate, em 2003, na Copa Sul-Americana. O
atacante acumula dezenove cartões vermelhos em sua trajetória como
profissional. A ausência de inteligência emocional faz com que sua presença nos
noventa minutos seja sempre uma incógnita.
Conhecido
no Brasil somente depois dos trinta anos de idade (pois fez a maior parte de
sua carreira no Japão e no Qatar), Emerson Sheik também é um atleta marcado por
um histórico de confusões grotescas. Sheik já saiu vociferando nos microfones
da Globo contra a Confederação Brasileira de Futebol, foi demitido por ter
cantado o “Bonde do Mengão sem Freio” no ônibus do Fluminense, xingou
acintosamente um juiz, foi desmascarado como um “gato” do futebol e acabou
vítima da torcida corintiana quando beijou um amigo. Não há uma única passagem
por clubes brasileiros em que Emerson não tenha deixado alguma história de
desavença.
E não será nada surpreendente se alguns falarem de Felipe Melo e seus descontroles.
E não será nada surpreendente se alguns falarem de Felipe Melo e seus descontroles.
Outros
lembrarão de episódios isolados, como o que André Luiz, na época no Botafogo,
protagonizou. Em um jogo contra o Estudiantes, em 2008, o zagueiro tirou o
cartão amarelo e o aplicou no juiz Carlos Chandía. O motivo da revolta de André
tinha sido o erro do juiz, que se equivocou com o verdadeiro culpado e aplicou
erroneamente o amarelo nele (que já tinha um por falta).
Talvez
lembrem ainda do ringue de batalha aberto pelo volante Dinho e pelo meia
Válber, que atuavam por Grêmio e Palmeiras. Na noite do dia 26 de julho de
1995, após uma tentativa de cabeçada do volante gremista, o meia palmeirense
ficou rolando no gramado do Estádio Olímpico. O resultado foi a expulsão de
ambos. E engana-se quem pensa que a desinteligência acabou aí. Depois da
retirada de campo, começou um festival de voadoras e tapas de Dinho e do
goleiro Danrlei (outra figurinha carimbada da década de 1990) em cima de
Válber. Só a Polícia Militar conseguiu encerrar esse embate paralelo.
O
termo Bad Boy passou a ser utilizado para nomear uma gama de jogadores de difícil
trato que se estabeleceram entre o fim da década de 80 e meados de 1990. Viola,
Paulo Nunes, Renato Gaúcho, Djalminha, Marcelinho Carioca e outros foram
encaixados e fizeram jus ao rótulo. No entanto, quando o termo é evocado, os
primeiros exemplos que se manifestam com destaque são Romário e Edmundo, que
eram igualmente craques em arranjar tumultos. Teve até funk para representar o movimento que eles abraçaram com gosto. E foram vários entreveros que
merecem destaque e são bem maiores que esse texto. Pode ser que um próximo
volume desse título dê conta de descrevê-los. Pelo mesmo motivo eu deixarei Serginho Chulapa no banco.
No
entanto, o maior encrenqueiro do futebol brasileiro foi réu confesso. Ele não
está mais entre os vivos desde 1973. O próprio se classificava como um
marginal. Nelson Rodrigues o chamava de “O Divino Delinquente”. Tratava todos
os de seu convívio muito bem. Era alguém capaz de tirar a própria roupa do
corpo para ajudar alguém necessitado. Até mesmo quem não conhecia. E esse foi o
enredo que desembocou em sua morte.
Ele se transformava em outra pessoa quando entrava em campo. Apesar de merecer envergar
o uniforme da seleção muito mais vezes, por conta de seu gênio irascível, ele
só atuou em sete ocasiões pelo escrete canarinho. O jogador foi conhecido como
Pernambuquinho, “Pelé Branco” ou simplesmente Almir.
Almir
atuou por Sport, Vasco, Corinthians, Boca, Fiorentina, Genoa, Santos, Flamengo
e América-RJ. E arrumou barracos antológicos por todas as equipes anteriores.
Jogo com o Pernambuquinho jamais acabava zerado em termos de tumulto.
Ainda
em início de carreira, pelo Sport, ele mirou bem um torcedor que o xingava das
arquibancadas, esperou o jogo terminar e o perseguiu até surrar o mesmo fora do
estádio.
Em
1959, atuando pela seleção brasileira, Almir arranjou uma batalha campal com os
jogadores do Uruguai. Uma pancadaria que acabou ficando mais conhecida do que o
resultado do jogo e a importância do torneio, que nada mais era do que um
Sul-Americano.
Na
Taça Intercontinental de 1963, vestindo a camisa do Santos, ele liderou uma
verdadeira caçada a Amarildo, o Possesso, que atuando pelo Milan, o adversário
daquela final, caiu na besteira de declarar aos jornais italianos que Pelé
estava acabado para o futebol. Almir julgaria aquele ato como imperdoável. Só
Deus era maior na cabeça do Pernambuquinho. Embora Almir tenha sido a melhor
figura do jogo, o certame acabou em um espetáculo recheado de rapapés, tesouras
e chegadas mais que viris. E tudo com a conivência do homem de preto.
E
a maior de todas as desordens veio quando Almir atuava pelo Flamengo, em 1966.
Com o intuito de evitar que o Bangu, que já vencia por 3 a 0, ampliasse a
goleada, Almir partiu para cima dos alvirrubros a fim de evitar que eles dessem
a volta olímpica no Maracanã com aquela pompa. O saldo foi de cinco expulsos no
Flamengo e quatro para o Bangu, que viu o jogo ser encerrado por falta de material
humano e não comemorou como campeão no Mário Filho.
Apesar
de toda sua qualidade como atacante, totalizou apenas onze anos como
profissional. Por causa de suas jornadas com o álcool, com pouco mais de 30
anos, Almir já tinha a aparência de um velho.
Já
aposentado, na Galeria Alaska, em Copacabana, ao defender do deboche um grupo
de atores gays do Dzi Croquetes, Almir tomou dois tiros. Faleceu ali uma lenda
da época de ouro do futebol brasileiro. Morreu um homem valente que foi muito mais
conhecido pelos defeitos do que pelas virtudes.
Vídeos Recomendados : A batalha campal entre Brasil e Uruguay - 1959
RECOMENDAÇÕES: “Eu e o Futebol”, de Almir Pernambuquinho, Biblioteca Esportiva Placar (1973)
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