quarta-feira, 30 de março de 2016

Festa com vela de sete dias


O empate por dois gols entre Brasil e Paraguai serve mais para ocultar fatos do que levá-los à luz de uma discussão mais profunda. A igualdade suada no fim do segundo tempo leva a pensar em garra, superação e que estamos no caminho para um bom trabalho. Não há nem esboço de um bom trabalho. O desenho tático da seleção brasileira mais parece um armário de adolescentes.
O ponto conquistado no Paraguai deu sobrevida a Dunga, que já se via ameaçado no cargo de distribuidor de coletes de titulares e reservas. 
O primeiro tempo de jogo virou com o 1 a 0 a favor do mandante. E poderia ter sido 2, 3, 4, tal era a facilidade para chegar na área do Brasil e bombardear o goleiro Alisson. Os flancos do campo viraram área de passeio para os atacantes paraguaios. O lance do gol mostra Lezcano totalmente livre e com tempo até para fazer pensamentos filosóficos intrincados caso desejasse. 
Com o início da etapa derradeira, veio o segundo gol em uma troca de passes entre Ortiz, Santa Cruz e Benítez, que expôs ainda mais as falhas de posicionamento e ineficiência no combate defensivo brasileiro.
Pela primeira vez na história das eliminatórias, o Brasil é avistado em uma posição tão pífia na classificação. Estamos em sexto lugar nesse momento. E foi curioso ver que tinha gente comemorando o fato de que, ao evitar a derrota, não desceríamos ao sétimo lugar. Talvez a derrota e a pressão da opinião ensinassem mais a Dunga e à CBF.  
O resgate da seleção brasileira passaria por um trabalho de reconstrução do futebol a longo prazo. E isso envolve novos nomes no comando da seleção e no campo de jogo. O modelo desse tipo de reengenharia é a seleção alemã de Klinsmann, em 2004, que se fez uma autocrítica e retrabalhou desde as categorias de base. Os frutos foram visíveis na Copa do Mundo de 2014. Não adianta demitir Dunga e vir, por exemplo somente ilustrativo, com um Carlos Alberto Parreira requentado. É hora de transição para o novo.

terça-feira, 29 de março de 2016

“Pitacos”



Já que a tabela de classificação das Eliminatórias Sul-Americanas anda tão embolada até a sétima colocação, eu me arrisco a dar alguns palpites sobre a quinta rodada que será disputada hoje.
O primeiro jogo da rodada é entre o líder Equador e a Colômbia. No momento em que escrevo estas linhas, a seleção da Colômbia vai aplicando um 3 a 0 e quebrando a invencibilidade do time equatoriano. Seria desonesto cravar a vitória do time de James Rodriguez e Ospina com 25 minutos do segundo tempo. Fiquemos por aqui quanto ao que diz respeito a esse certame.
O estádio Centenário recebe a partida entre Uruguai e Peru. Na segunda colocação das eliminatórias, com dez pontos ganhos, a seleção de Suarez e Cavani joga para tentar uma vitória e ultrapassar o Equador. A defesa atual do time alviceleste não é nenhuma garantia de segurança como observamos na partida contra o Brasil, mas figuras essenciais como Carlos Sanchéz, Luis Suárez e Edinson Cavani fazem com que o prognóstico mais lógico seja uma vitória segura do selecionado uruguaio. Já pelo lado peruano, o empate frustrante em casa, contra a Venezuela, fez com que Ricardo Gareca barrasse Fárfan e Pizarro.
A Argentina encara a frágil Bolívia em Córdoba. O visitante não deverá ser nenhum obstáculo para o time de Messi, Higuaín e Di Maria, que vem embalado por duas vitorias fora de casa contra a sempre complicada Colômbia e o indigesto Chile, atual pedra no sapato dos argentinos. É o jogo de uma só seleção. Marco Argentina sem qualquer crise de consciência.
O atual campeão da Copa América, o Chile, encara a Venezuela fora de casa. Por conta das duas derrotas anteriores (Argentina e Uruguai), a situação de pressão e de maior qualidade no elenco faz com o que Chile seja o favorito para essa partida. Apesar de alguns desfalques como Bravo, Fernandez e Díaz, e ainda que a partida aconteça nos domínios venezuelanos, o time chileno tem todas as condições para bater a atual lanterninha das eliminatórias.
A última nota vai para Brasil x Paraguai. Em outros tempos, não seria difícil apontar uma vitória fácil da seleção brasileira, mas acontece que o atual Brasil é um time de pouco equilíbrio emocional, de escolhas equivocadas por parte do técnico e  muito longe de um padrão tático. Quando alguém aqui viu o Brasil correr o risco de cair para o sétimo lugar de um torneio continental. Pois bem, se acontecer uma derrota, o que não seria nada anormal, pois se trata de uma partida em solo paraguaio, o time de Dunga cairia para essa faixa da tabela. Muitos podem argumentar que são apenas seis rodadas do torneio, mas já serão onze pontos perdidos por conta de teimosias e conceitos muito arcaicos para se colocar à frente de um selecionado brasileiro.

Além de não assustar os adversários, a defesa do Brasil vem se tornando um convite para novos vexames. Sem Neymar, o time brasileiro costuma fazer um futebol previsível e sem maiores atrativos. Caso o Brasil retorne com um ponto do Paraguai, será considerado um excelente resultado. Devido às circunstâncias, eu apostaria em uma vitória do mandante e na queda de Dunga.

segunda-feira, 28 de março de 2016

Linha do Equador


As Eliminatórias Sul-Americanas começaram a ser disputadas com o atual formato, com todos se enfrentando em sistema de turno e returno, em 1998, para o que seria a Copa do Mundo da França. Como o detentor do título de 1994, o Brasil não precisou disputar a fase classificatória da Copa do Mundo seguinte. Antes disso, a elaboração das Eliminatórias era feita por zona, sendo que a fórmula mais conhecida costumava separar os países em dois grupos, com cinco e quatro países, classificando automaticamente os primeiros e segundos colocados dos grupos e deixando para o melhor terceiro a missão de enfrentar seleções da Oceania na repescagem.
Ao longo desse tipo de disputa, o Brasil amargou onze derrotas, sendo a mais traumática a primeira da série, em 1993, quando enfrentou a Bolívia, em La Paz, e perdeu por 2 a 0. O time sentiu os efeitos da altitude de 3600 metros e um futebol de nível razoável comandado com Etcheverry e Erwin Sanchez. Para acabar de completar, o goleiro Taffarel, que havia feito uma defesa em um pênalti, sua especialidade, fez um gol contra em cruzamento esquisito de Peña (o gol acabou sendo atribuído ao meia boliviano). O dia seguinte jogava a seleção de Carlos Alberto Parreira como território dizimado. Taffarel, um dos maiores arqueiros brasileiros de todos os tempos, sofreu um linchamento público; a defesa passou a ser lenta; Mauro Silva e Luis Henrique eram burocratas. Os gritos por Romário passaram a ecoar até o jogo contra o Uruguai, no mesmo ano de 1993, com o Maracanã em surto coletivo. A exceção foi a cidade de Recife, que assistiu a revanche entre Brasil e Bolívia, com o escrete canarinho aplicando uma saraiva por 6 a 0.
Na fatídica derrota para a Bolívia, o zagueiro Quinteros, um argentino naturalizado boliviano, estava escalado como titular. Esse ex-jogador agora volta à ribalta como técnico da seleção do Equador, a atual líder das eliminatórias, com treze pontos em cinco rodadas. É importante dizer que os equatorianos já enfrentaram Argentina(fora) e Uruguai(casa) dentro dessa sequência. Essa arrancada inicial fez o Equador colocar três pontos de vantagem no Uruguai e cinco em um pelotão que tem Brasil, Paraguai e Argentina. Com um jogo baseado em velocidade nas extremas e marcação intensa no campo adversário, o treinador boliviano se diz inspirado pelos esquemas do Barcelona de Johan Cruyff e o Milan de Arrigo Sacchi. Nomes como Bolaños, Noboa, Erazo, Valencia e Cazares passaram a ser cotados no mundo do futebol.
Acostumados a ver Argentina e Brasil na liderança desse tipo de competição há um longo tempo, com rápidas e boas figurações de Colômbia, Chile e Uruguai, o torcedor se pergunta se esse Equador terá força para resistir até a última rodada no topo da competição. A verdade é que um time modesto como o inglês Leicester derrubou uma série de paradigmas (posse de bola, jogo baseado no contra-ataque e jogadores desconhecidos) e apostou na força do conjunto. Conjunto e obediência tática que a seleção do treinador Quinteros tem exibido aos montes em um trabalho de pouco mais de um ano.
A lógica seria apostar em vitórias da Argentina (Bolívia/ em casa) e Uruguai (Peru/ em casa) e derrota do Equador (Colômbia/ fora), o que embolaria completamente a tabela de classificação. Só que é importante ressaltar que essa seleção equatoriana já ganhou duas partidas em território inimigo. Quanto ao Brasil, sem Neymar e em franca queda técnica e psicológica, um empate já está de bom tamanho contra o Paraguai, em Assunção. A camisa oficial da seleção brasileira tem sido mais usada nas manifestações contra o governo do que por orgulho do futebol exibido pelos comandados de Dunga. A blusa amarela de destaque, inacreditavelmente, passou a ser outra em 2016. Melhor futebol do mundo? Só nos lábios de Galvão Bueno. Assim como a primeira derrota veio na altitude, o inédito jogo na Oceania ainda pode acontecer no caminho para a Rússia.

sábado, 26 de março de 2016

MUITO ANTES DO 7X1


MUITO ANTES DO 7X1

Algo comum e tradicional no subúrbio carioca era amigos e familiares se reunirem para assistir os jogos da seleção. A turma se encontrava em bares, churrasco na rua e na casa de alguém cuja mãe ou avó tivesse excelentes dotes culinários. 
Cada gol era motivo de muita comemoração e festa com direito a fogos e gritos de acordar quarteirões inteiros. No jogo entre Brasil x Uruguai em 25/03/2016, para minha surpresa, reinou um silencio absoluto. Pareciam prever que o adversário iria engrossar e quase vencer. O que está acontecendo com o Esta geração que pensa “não precisar provar nada a ninguém”nem faz ideia do tamanho da importância e da responsabilidade de vestir a, ainda, camisa mais valorizada do futebol mundial. 
Hoje em dia bastam duas ou três atuações razoáveis para o cidadão receber a alcunha de craque e surgirem propostas dos mais diversos times do mundo. Porém, quando começam a receber pressão e serem questionados, é um verdadeiro show de vaidade, falta de educação com respostas atravessadas, negativas de entrevistas e a sensação de que estão fazendo um imenso favor à seleção. Isso começa a contagiar a torcida.

Não se pode deixar de falar da atual crise política que a CBF vem enfrentando com um ex-presidente preso e o outro acusado de corrupção. É impossível acreditar que isso não iria se refletir em campo. Além disso, ao invés de aproximar o torcedor da seleção, continuam deixando a mesma jogar a quilômetros de distância do povo. 

Tão séria quanto a crise política é a técnica. É cada vez mais comum jogadores com idade avançada e sem mercado na Europa retornem com salários exorbitantes. Em alguns casos se destacam e brilham, como Ricardo Oliveira e Nenê. Ambos jogam em alto nível apesar da idade avançada. A verdade é que o brasileiro vem perdendo seu encanto com a seleção. Neymar é o único craque e não resolverá sozinho sempre. Junte-se a isso anos de crises, denuncias, corrupção, desmandos e deficiência técnica. O futebol brasileiro passa por seu pior momento na história.

O 7x1 é só a ponta do iceberg… o pior ainda está por vir.

PAPO RETO COM O SERGINHO:

1) Só imaginaria o Jeferson fora da seleção se fosse para o goleiro Cássio do Corinthians. Melhor que o atual titular há vários nomes a sua

2) O que mais David Luiz precisa fazer para ser barrado?

3) Quem é o padrinho do Fernandinho?

David Luiz: Personagem da Rodada


De tempos em tempos, David Luiz recebe o diagnóstico de que não é um zagueiro. Alguns técnicos dizem que, por ter bom passe e alguma vocação ofensiva, o jogador seria mais compatível com a função de primeiro volante. Ele continua colecionando bobagens na zaga da seleção brasileira e do Paris Saint Germain.
Ontem, jogando mais uma vez na zaga, David Luiz foi diretamente responsável pelos dois gols do Uruguai. No lance do primeiro gol, ele marcava a bola quando Sánchez cabeceou para trás e encontrou Cavani; No segundo, o zagueiro deu uma cochilada e um lançamento encontrou Sánchez livre. Quem em sã consciência deixa um zagueiro lento, sem cobertura, para a marcação de um homem que é comprovadamente um dos maiores atacantes do mundo na atualidade?
Pelo fato de o Brasil ter dominado o primeiro tempo, é normal com os ânimos fiquem aflorados com um empate tão bisonho, em que tudo apontava, inicialmente, para uma goleada histórica. Só que é injusto colocar a culpa somente em um sujeito. O time cedeu um ponto ao Uruguai porque o ataque diminuiu o ritmo, Fernandinho errou de passes, a estrutura emocional desaba com qualquer adversidade, Felipe Luis não achou qualquer oponente. E não dá só para culpar apenas o cabeludo do Paris Saint Germain. E no fim das contas, a culpa é só de David Luiz ou de quem continua o escalando em uma situação onde ele não pode dar felicidade ao seu povo?

quinta-feira, 24 de março de 2016

Como um torcedor escolhe seu clube?



Como um torcedor escolhe uma camisa que lhe servirá como parte da identidade pelo resto da vida?
Em meados de 1981/1982, com o Brasil de Telê Santana espalhando as boas novas do futebol arte pelo mundo, um garoto não tinha o direito de dizer que não gostava do esporte. Caso fizesse isso, era considerado um pária pelos outros meninos de seu convívio. Podia até não saber como driblar, passar ou defender, mas a posição de goleiro sempre seria uma forma de o jogador inábil confraternizar com o resto de seus camaradas. E tinha Zico, Sócrates, Falcão, Leandro, Junior, Cerezo, Éder, Luizinho, Roberto Dinamite e outros mais. Com exceção de Falcão, a essa altura já o Rei de Roma, esses jogadores atuavam em clubes de ponta do futebol nacional. Isso gerava discussões em que a paixão pelo clube nos fazia crer que Roberto Dinamite podia ser melhor que Zico, que Pedrinho (lateral-esquerdo do Vasco) podia barrar Junior, o Capacete. Nunca. Mas o importante era a batalha clubista. Ou seja, Telê devia escalar Paulo Sérgio (Botafogo) e Carlos (Ponte Preta) porque eram bem melhores que o controverso Valdir Peres (São Paulo). Ou podia ter feito uma forcinha e levado Acácio (Vasco) ou Paulo Victor (Fluminense).
Eu tinha uns seis anos por essa época. Era apaixonado por futebol como todo moleque de minha idade. Colecionava álbuns de figurinhas, comprava as revistas especializadas e defendia meus ídolos como se eu fosse gente grande. Só que havia o interessante: eu não tinha um time do coração. Geralmente, as crianças são conduzidas para determinado clube por conta do amor de seus pais. Meu pai também não torcia por nenhum time. Ele tinha vindo do Nordeste do país, e a fome e o trabalho eram necessidades bem maiores do que ver a bola deslizar no gramado.
Isso mudou com a amizade com um gerente de uma loja vizinha. Era um atleticano fanático. E fazia todo o sentido, pois o Galo tinha três jogadores na seleção (todos eles titulares absolutos) e mais quatro selecionáveis no elenco. Um timaço. Ele insistiu para que fôssemos ver uma partida contra outro esquadrão da época, o Flamengo. Promessa de grande jogo. Fomos. E ele tinha o hábito de ir ao ônibus do clube, para falar com os jogadores ao final das partidas. Todos eles eram muito acessíveis e atendiam os torcedores pelo tempo necessário na saída. Ainda não tinha chegado a época dos Rock Stars do campo. E lá nós tínhamos o goleiro João Leite, o zagueiro Luizinho, o lateral Jorge Mendonça, os atacantes Éder e Reinaldo. Com autógrafos nos bolsos e histórias na cabeça, eu e meu pai viramos atleticanos. De camisa, bandeira e coração. O problema era que nosso time não jogava muitas vezes no Rio. Ou melhor, não jogava as vezes que nós desejávamos. Aí é que entra o Vasco, minha paixão eterna e a instituição que me faz perder as estribeiras, seja com vitórias ou derrotas. Sou capaz de chorar copiosamente com coisas bobas como um cântico ou uma faixa informando que “O sentimento não pode parar” ao final de uma batalha na série B de 2009.
Ainda sem essa ligação definida, somente pelo espetáculo, meu pai resolveu me levar para assistir uma final de Campeonato Carioca, um Vasco x Flamengo, em 1982. O Flamengo tinha um time infinitamente melhor que o Vasco, que tinha chegado a finalizar o primeiro turno em um vergonhoso 7º lugar. Antônio Lopes, o técnico vascaíno, chegou a trocar mais da metade do time para obter alguma melhora. A melhora veio e o cruzmaltino chegou à final. A tarefa que parecia impossível virou fato concreto em um cruzamento de Pedrinho Gaúcho e a cabeçada do ponta-esquerda Marquinho, de apenas 1,60m. O arqueiro Raul Plassmann, uma das referências da posição, acabou fuzilado pelo leve desvio, abatido, agarrado a trave direita, que lhe serviu de consolo e apoio para os flashes dos fotógrafos. Vasco campeão. Saí do Maracanã jurando amor eterno e com uma fidelidade que persiste até os dias de hoje, apesar dos elencos fracos e das administrações nefastas dos últimos anos. Sou Vasco incondicionalmente. Xingo, quebro copo, arrebento pratos, digo que nunca mais assisto outra vergonha daqueles, mas sempre volto. E sempre voltarei.
E a geração atual?
“Betinho, você é Vasco, Flamengo, Fluminense ou Botafogo?”, perguntei eu a um garotinho muito querido de minha convivência.
“Não torço por time nenhum no Brasil, não, tio André. Eu sou Barcelona na Espanha, Manchester City na Inglaterra, PSG na França, Milan na Itália... Peraí, eu acho que prefiro a Juventus na Itália! Ajax na Holanda, Bayern na Alemanha, Benfica em Portugal, Galatasaray na Turquia, Standard Liége na Bélgica. E torço para o Boca Juniors da Argentina.”
“E seu pai?”
“Meu pai prefere vôlei. Ele diz que pelo menos os jogadores se matam por causa dos gritos do Bernardinho. Não fazem corpo mole ou são mascarados como esses caras do futebol.”
“E você não tem nenhuma simpatia pela seleção brasileira?”
“E dá para torcer por uma seleção em que o técnico é o Dunga, Gilmar ajuda a convocar, e eu mal sei de onde surgiram certos jogadores, tio?”
Pois é, Betinho, seria preciso mais incentivo...







terça-feira, 22 de março de 2016

"Comentaristas de Futebol"



“Se vaidade ganhasse jogo o Ronaldo tinha ido com os travesti bonitão pro jogo e não pro motel , pô!”, NETO

Nelson Rodrigues e Armando Nogueira foram comentaristas de futebol que fizeram o jogo parecer peças literárias. Com vocabulários rebuscados e frases de efeito, as figuras de linguagem faziam com que os passes de 50 metros, dribles desconcertantes, tabelinhas e gols de placa parecessem coisa sobrenatural. Os comentários da dupla figurariam sem nenhum favor nos melhores poemas. Um exercício que engrandecia e ajudava a ampliar a mística do esporte bretão. Futebol podia ser tão leve e plástico quanto a movimentação do ballet.
“Não tínhamos rainhas, nem Câmara de Comuns, nem lordes Nelsons. Mas tínhamos Garrincha”, dizia Nelson, sobre o Anjo das Pernas Tortas. “Tu, em campo, parecias tantos, e, no entanto, que encanto! Eras um só, Nílton Santos”, escrevia Armando sobre Nilton Santos, a Enciclopédia do Futebol. Os comentários se elevavam ao nível da arte praticada nas quatro linhas do campo.
As TVs abertas e as fechadas do Brasil têm centenas de comentaristas esportivos para dar suporte nos milhares de certames espalhados pelo mundo. Elas transmitem o futebol italiano, espanhol, inglês, alemão, holandês, português e, quando sobra algum tempinho, as partidas de nossos times locais.
E quem são os nossos Nelsons de hoje? Onde estão os nossos Armandos?
A poesia moderna talvez esteja no conhecimento maciço e na sobriedade de um Paulo Vinicius Coelho. Uma estrofe inspirada pode surgir nas bocas de um Mauro Beting, um Lédio Carmona, Junior ou de um Juninho Pernambucano. Ou em um relevante verso recitado por um Caio Ribeiro ou um Casagrande.
Chego a esse parágrafo inclinado a afirmar que quase não existe poesia nas descrições de nossas epopeias futebolísticas. A maior parte dos comentaristas atuais também acompanha a crise técnica de nosso futebol. Eles dominam bolas nas canelas e erram passes de um metro com a maior desfaçatez. A poesia parece ter saído de cena para dar lugar ao FEBEAPA (Festival de besteiras que assola o país), do saudoso Sérgio Porto/ Stainslaw Ponte Preta.
Ser um craque em campo não significa que o analista de futebol fará o mesmo com suas palavras. Basta recordar Rivellino fazendo suas intervenções, onde o ex-jogador só sabia incensar as habilidades de quem sabia bater de “três dedos” em uma bola ou de quem tinha o dom de cobrar bem as faltas. Temos ainda os palpites furados e a falta de noção de Pelé. Ou o monossilabismo envergonhado de Ronaldo Fenômeno.
Na categoria “best sellers” da classe, nós temos o inacreditável Neto e o inverossímil Roger Flores. Ambos tornaram-se comentaristas depois do fim de carreiras irregulares no futebol. Criticam e despedaçam atletas como se tivessem sido exemplos do esporte.
Em uma interferência durante um jogo do Fluminense, seu ex-clube, Roger chegou a dizer que o volante tricolor Edinho precisaria de um revólver calibre 38 para matar uma bola. Flores também tem a mania de revelar detalhes dos bastidores e manhas de jogadores em campo, o que é muito mal digerido pela categoria.
Já o autoproclamado craque Neto arrumou encrencas com o goleiro Marcos, com Belletti (que se tornou um profissional bem melhor que ele nesse quesito), com o elenco do São Paulo, com o zagueiro Lúcio, com os próprios colegas de profissão (chamou-os de frouxos), etc. O caso dele com Belletti é um capítulo a parte. Já trabalhando pela Band nos jogos do Campeonato Espanhol, na época em que Ronaldinho Gaúcho, Giuly e Eto´o lideravam o esquadrão do Barcelona, Neto fazia questão de ser indelicado com Belletti. Cada vez que o meia pegava na bola, o comentarista fazia barulhos irônicos e muxoxos contrariados. A ação resultou em negação de entrevistas à emissora por parte do elenco do Barcelona. E a cereja do bolo são as violências que o ex-corintiano comete com a língua portuguesa. E pensar que essa prepotência é construída só com dois ou três anos de futebol acima da média no Corinthians.
Dois caminhões de demolição em um terreno que necessita de um veículo com mais jogo de direção. O telespectador precisa de mais poesia e menos gritaria em um jogo local que já é terra dizimada. 




sábado, 19 de março de 2016

“Kléber Andrade, um estádio carioca por necessidade (de lucro?)”



O grande chamariz de Boavista x Vasco não é a escalação de nenhum dos dois times. Não é o excelente trabalho do técnico Jorginho. Muito menos as ausências confirmadas de Riascos e Eder Luis. Também não se trata da boa campanha de ambos até o momento. O que mais chama atenção para o confronto é a realização dele fora das fronteiras do Rio de Janeiro, coisa até então inadmissível, por conta de algumas convicções do presidente vascaíno Eurico Miranda, para um jogo do time de São Januário no Campeonato Carioca.
O jogo terá sua realização no Estádio Kléber Andrade, na cidade de Cariacica (ES). A explicação para tal situação é a inoperância de importantes estádios cariocas, tais como o Maracanã e o Engenhão, ambos fechados para reformas que os adequarão para receber jogos da Rio 2016.
No entanto, quando vemos o atual interesse do público pelo combalido torneio estadual, mesmo em estádios de pequeno porte como Los Larios (Xerém) ou o Moacyrzão (Macaé), percebemos que o desvio de rota pode ter sido produzido na tentativa de gerar mais receitas para os clubes e para a FERJ (Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro), que continua levando sua generosa fatia do bolo lucrativo. Flamengo e Fluminense já provaram por A + B que conseguem lotar estádios do Brasil afora com as forças de suas marcas. Chegou a vez de o Vasco exibir a mesma capacidade.
Os números já apontam para um sucesso de público. Desde que os ingressos foram liberados, no último sábado, o público já responde com a aquisição de cerca de quinze mil ingressos de um total de dezoito mil. A média do Vasco no torneio vigente tem sido de 6657 pagantes, um público bem aquém da envergadura vascaína. Para ficar em um exemplo, na primeira rodada da Taça Guanabara, torneio dito por muitos como o verdadeiro início do campeonato, o Vasco enfrentou o Bangu, no estádio de São Januário, sua própria casa, com um público pagante de 3943. E enfrentou o Botafogo na última rodada com 7921 almas em seus domínios. Pois bem, do ponto de vista lucrativo, o torneio ainda não começou para o Gigante da Colina. É preciso gerar receitas para fugir do prejuízo certo do Carioca e alimentar o apetite insaciável da Federação gerida pelo momentaneamente licenciado Rubens Lopes.
O torcedor capixaba é que vai pagar parte da conta dessa fome. No Espírito Santo, o ingresso mais barato sai pelo valor de R$ 100, sendo que o Vasco vem jogando no Rio de Janeiro com um ticket médio de R$ 38. E nem assim o torcedor aparece. O homem do radinho da pilha e o sujeito da laranja na boca vão deixando de ser assíduos nos campos de futebol. Com espetáculos mais convincentes e preços mais acessíveis, talvez o torcedor volte quando o campeonato começar de verdade. O problema é que ele vem ameaçando se iniciar desde o fim da década de 1990. E só se inicia para a Federação, para os engravatados, para os turistas e para quem não quer correr o risco de esbarrar com multidões.

quarta-feira, 16 de março de 2016

PROFISSÃO: PERIGO


FONTE: vejasp.abril.br


Em nossa constituição federal, o “direito de ir e vir” são garantidos a todo cidadão. Como o nome já diz é o direito que toda pessoa tem de se locomover de um lugar para o outro e que só pode sofrer algum impedimento por justo motivo e após uma decisão fundamentada de uma autoridade judicial. Sem querer entrar em direito do trabalho é possível que após anos de mudanças e melhorias nas condições para os jogadores profissionais exercerem sua profissão, surge uma proposta para que os técnicos de futebol não possam ficar trocando muito de clube ao longo do ano. Complicado, pois se trata do lado mais fraco da balança, sendo responsável direto por tudo de bom e, principalmente, de ruim que a equipe apresenta em campo sem falar de sempre “pagar o pato” vivendo diariamente a expectativa de ser demitido do clube.

Longe de estar aqui procurando defender os nossos “professores” mas é preciso encerrar de vez esta demagogia e admitir que é muito mais prático demitir um do que vinte e dois. Técnico é uma mistura de psicólogo e gestor já que trabalha com seres humanos e não máquinas, ou seja, nem sempre o planejado ou treinado é possível de ser aproveitado ao máximo e por conseqüência temos as derrotas. As vezes fazem o trabalho de babá do jogador que adoram serem mimados e não gostam de se empenhar nos treinos....e isso fica ainda mais complicados quando se trata da(s) estrela(s) do time. Logo todos se voltam contra os “métodos de trabalho”.

Em uma empresa sempre são cobrados resultados de acordo com as metas estipuladas. Quando não dá certo, muitas delas alteram suas estratégias e promovem mudanças nos setores envolvidos buscando a melhoria. Tudo bem que em alguns casos os  dirigentes não assumem a sua parcela de culpa como em casos que demoram a mudar o treinador ou não reforçam a equipe da forma que foi prometido. No final sempre quem paga a conta é o técnico.

“Bombeiros”,“retranqueiros”,“professor pardal”,“centralizadores”,“paneleiros”, “motivadores”,“estrategistas” e até mesmo os “eternos interinos”. Cada um tem seu perfil e método de trabalho. Em algumas situações funcionaram bem e em outras dando tudo errado. Mesmo assim criar um mecanismo que impeça o treinador de exercer sua profissão é um retrocesso. Da mesma forma que os clubes podem demitir, o profissional tem o direito de escolher aonde e quando trabalhar.

Qual a hora de parar?


Francesco Totti dedicou uma vida inteira ao seu clube de coração, o Roma. A estreia veio aos 16 anos, contra o Brescia, em 1993. Apesar dos interesses de Lazio, Milan, Sampdoria, Benfica e Real Madrid, o italiano nunca quis vestir outra camisa que não fosse a do clube da capital. Atuando até hoje, a seis meses de completar quarenta anos, o jogador atingiu uma marca superior aos 300 gols e é o segundo maior artilheiro da história do Calcio.
Depois de repetidas lesões desde 2013, o meia vive entrando e saindo do time. A questão é que com o retorno do treinador Luciano Spalletti (Foi o técnico no período de 2005 a 2009), um antigo desafeto, ao comando da Roma, Totti perdeu de vez seu espaço no clube. A prova maior disso foram os sofridos três minutos finais da partida contra o Real Madrid, em que Totti permaneceu como opção entre os suplentes. Desacostumado com tal situação, o atleta usou a imprensa para reclamar dos métodos do comandante e acabou sendo preterido dos jogos. Deve se aposentar melancolicamente ao fim dessa temporada, mas tinha contrato para disputar mais uma. Francesco podia ter pensado somente em si e ter encerrado sua carreira no auge? Sem dúvida.
Raul González é o jogador com mais partidas com a camisa do Real Madrid e o segundo maior artilheiro da seleção espanhola. Atuou por dezessete anos e fez 741 partidas pelos merengues. O nível de relação com a torcida era tão bom que ela fingiu que não viu quando seu ídolo entrou em curva decadente e começou a agonizar em público. Em vez de reconhecer a queda física e técnica do craque, os fanáticos preferiram voltar suas cargas para os técnicos que negaram a titularidade ao astro. Nomes como Vanderlei Luxemburgo, Manuel Pellegrini e José Mourinho sofreram a ira da turba madridista. O português ainda conseguiu convencer os dirigentes da necessidade de uma negociação do astro. Sem o mesmo brilho de antes, ele teve uma passagem razoável pelo Schalke 04, onde marcou gols decisivos, e depois seguiu para encher os bolsos no Al-Sadd, do Qatar, e, por fim, foi encerrar a carreira no americano New York Cosmos.
Rogério Ceni é considerado o maior jogador da história do São Paulo. É um dos raros casos atuais de identificação de um atleta com a camisa de um clube. Com o manto tricolor, o goleiro fez defesas importantíssimas e marcou gols de valor inestimável. Quando decidiu parar, em 2015, aos 42 anos, oscilava contusões e falhas incomuns para um especialista de sua qualidade. O tempo excedente acrescentou algo ao currículo do chamado M1TO?
O que leva um jogador profissional de sucesso a tentar estender indefinidamente sua carreira? O dinheiro? É sabido que uma carreira dura muito pouco e é preciso saber investir, tentar guardar o máximo, o que nem todos sabem fazer, para ter uma aposentadoria relaxada. A necessidade do pé de meia explica o êxodo de tantos jogadores em boa forma para a China, a Índia, o Qatar, o Japão, que são centros que fornecem estabilidade financeira e perda de credibilidade nas convocações das seleções.
Será o tratamento de semideuses oferecido pelos torcedores e pela mídia? É possível que o ego seja mais sensível aos refletores dos estádios e ao espocar das câmeras e queira sustentar as pernas no lugar dos músculos. Ao se despedir do Flamengo para jogar no futebol americano, Leonardo Moura disse algo sobre a falta que lhe faria os gritos da torcida rubro-negra no dia seguinte. Talvez por isso o amanhã seja tão adiado.
Em 2013, Pelé declarou que não defendeu o Brasil na Copa da Alemanha, em 1974, apesar de ter se despedido do Santos e estar bem fisicamente, porque queria protestar contra os malefícios da ditadura do Governo Geisel. Oras, se queria protestar, por que o maior jogador de todos os tempos não escolheu 1970 para fazer tal coisa? Prefiro acreditar que Pelé preferiu não arriscar seu prestígio com um grupo que sofria renovações com relação ao elenco tricampeão do mundo. Ele já era o maior de todos e já tinha empilhado todos os tipos de conquistas. Melhor fez do que o Garrincha de 1966, que foi a Inglaterra e já não era mais o Mané das pernas tortas e dos dribles desconcertantes.
Depois de ter vencido títulos importantes com o Flamengo e vivido anos de bom futebol na Itália, Leovigildo Gama, o Maestro Junior, resolveu voltar ao rubro-negro carioca, em 1989, para atender a um pedido do filho, que nunca tinha o visto em ação. Não só satisfez a solicitação de seu garoto, como amealhou mais uma Copa do Brasil, um Carioca e um Campeonato Brasileiro em sua passagem de três anos. Apesar das requisições para a permanência, Junior preferiu parar em alta.
Embora os joelhos em frangalhos não oferecessem mais suporte, Zico, outro ídolo flamenguista, foi mais um que conseguiu encerrar muito bem a sua história e ainda dar lições no Japão.
Outro motivo para a permanência em campo é a perseguição de um objetivo. Romário e Túlio se mantiveram em atividade pelo gol mil. Driblando contas oficiais e arriscando as próprias histórias, eles chegaram lá. Credor do Vasco, o baixinho foi patrocinado por Eurico Miranda e por uma série de esquemas que se voltavam para tornar a cobiça de Romário e as necessidades do cruzmaltino; já o atacante Túlio rastejou por mais 20 clubes pequenos antes de dar o seu caso por encerrado.
Todos com passagens pela seleção brasileira, Muller(50 anos), Donizete(47 anos), Amaral(43 anos) são casos de jogadores que tentaram ou ainda tentam a sorte, sem maior cartaz, nos campos esburacados das divisões inferiores e nas infraestruturas frágeis de microtimes. O renomado goleiro Dida também voltou a jogar e essa volta não foi muito digna de notas positivas. Zé Roberto, também com atuações pela seleção e por clubes grandes do mundo, é a exceção a esse questionamento. O lateral e meia palmeirense parece desafiar o tempo.
Qual a motivação depois de já ter levantado todos os tipos de taça? Como saber escutar o despertador biológico e saber diferenciar o que foi sonho da realidade do despertar? Qual a hora certa de parar de jogar futebol?

quinta-feira, 10 de março de 2016

"Ouro de tolo"



Por conta de sua cor amarelo-dourada e seu brilho metálico, a pirita, um dissulfeto de ferro, recebeu o apelido de “ouro de tolo”. Todavia, ironicamente, as piritas podem conter alguma quantidade de ouro verdadeiro, o que as pode tornar valiosas. 
Outros mais ligados às ciências místicas poderão argumentar que o “ouro de tolo” também é uma expressão utilizada para falar das promessas de falsos alquimistas, que alegavam ter a capacidade de conjurar ouro através de metais menos preciosos.
Alguns mais podem acrescentar que o termo batizou a debochada e sinuosa canção de 1973 do cantor baiano Raul Seixas.
Em suma, todas as opções anteriores são verdadeiras e servem para ilustrar o ponto que desejo atingir. E o ponto seria o brilho intenso de alguns jogadores brasileiros no alvorecer de suas carreiras. No entanto, vemos essas trajetórias estancarem em atuações irregulares, em páginas policiais, em clubes de menor porte, nos departamentos médicos da vida, nas casas de show da moda e nas camas das profissionais mais antigas do mundo. E o gênio de ontem se verte na figurinha amarelada do fundo do baú de recordações ou em um "Que fim levou?" do Milton Neves.
O maior exemplo desse tipo de atleta talvez seja Adriano. Atacante forte, de chute potente e de arrancadas, o atacante de origem rubro-negra encantou a torcida e o técnico Zagallo, que descolou uma vaga para ele na seleção quando voltou como coordenador. Virou nome indispensável nas convocações da última encarnação de Carlos Alberto Parreira à frente do escrete canarinho. Adriano teve passagens marcantes pelo Flamengo, Internazionale e na seleção brasileira da Copa das Confederações de 2005. Parecia o herdeiro natural de uma camisa 9 já vestida por Careca, Reinaldo e Ronaldo. Ledo engano. 
Depois da morte do pai e do fracasso na Copa do Mundo de 2006, o outrora Imperador desandou a encarnar uma versão moderna e tresloucada de Garrincha, outro com sérios problemas com mulheres e bebidas. O último sopro de Adriano foi a conquista do Campeonato Brasileiro de 2009, onde, debaixo de muitas vistas grossas da administração Patrícia Amorim, dividiu a responsabilidade do êxito com Petkovic. O que veio adiante foram passagens frustrantes por Roma, Corinthians e Atlético-PR. Em 2016, aos 34 anos, o jogador tenta mais um reinício no Miami United, dos EUA. Ansiosas, a pá e a vassoura tremem nas mãos da lógica, que espera para recolher os cacos do que a noite e alguma versão da Vila Cruzeiro deixarem sobrar.
Em 1987, o segundo nome dessa lista surgiu no diminuto Tomazinho(RJ) como um obscuro zagueiro, apesar do tamanho inadequado para essa função, e passeou por seis posições diferentes, sempre exibindo uma técnica muito acima da média. Defendeu 14 clubes ao longo de sua carreira de andarilho das quatro linhas. Em determinada ocasião, Telê Santana declarou que o jogador possuía mais potencial que o italiano Franco Baresi. Trata-se do multihomem Válber Roel de Oliveira, um craque quando estava disposto a praticar futebol. 
Ainda que atuasse na defesa, Válber era daqueles jogadores que raramente acionavam o bico da chuteira ou faziam a bola ganir. Seguro e com classe, colocava-se muito bem na área e tinha um passe seguro para acionar a zona de criação. Ganhou títulos importantes com o poderoso São Paulo e com o esquadrão vascaíno, respectivamente, no começo e no fim da década de 90. Sem nenhum tipo de lobby, poderia ter atuado até quando quisesse na seleção brasileira. Contudo, os sumiços dos treinos e o gosto por farras fizeram que ele entrasse em franco declínio já aos 30 anos. Arrastou-se por um período no Fluminense, no Santos, no Coritiba e em times de menor expressão. Um pouco mais tarde, o dono de dois mundiais, três libertadores e um brasileiro só era lembrado para exibições com atletas que ganharam o tetracampeão. A oportunidade de um canto do cisne digno veio com o convite do América em 2006. Sob o comando do técnico Jorginho, atualmente no Vasco, o zagueiro relembrou seus melhores momentos e liderou o alvirrubro até a semifinal daquele ano, eliminando, inclusive, o Botafogo. Como treinador, Válber dirigiu o Audax-RJ até o começo de 2014.
A medalha de bronze dos desperdícios pode ser colocada no pescoço do goleiro Bruno. Capitão do Flamengo, altamente cotado para a seleção brasileira e com uma negociação em andamento com o Milan, o jogador envolveu-se em um caso de assassinato, em 2010, soterrando, em pleno auge, a carreira de futebolista. Sem qualquer tipo de sucesso, o jogador vem tentando ganhar uma segunda chance e retomar a carreira em Minas Gerais.
Em uma pesquisa feita pelo Twitter, eu perguntei aos seguidores quais seriam, além dos que listei, os maiores desperdícios do futebol brasileiro. Sem ter o intuito de listar todos os nomeados como craques interrompidos por diversos motivos, eu queria apenas nomeá-los como jogadores que poderiam ter uma história muito melhor no esporte. Surgiram nomes como Jean Chera, Lenny, Jobson, Bernardo, Marinho, Josimar, Lopes e Jardel.
A voz do povo virtual também citou Walter, Paulo Henrique Ganso, Breno e Alexandre Pato, todos eles com 26 anos, como exemplos de carreiras superestimadas. Eu creio que seja muito cedo para duvidar desses relacionados. Sempre é possível que algum Telê Santana, conhecido por recuperar esportistas dados como irrecuperáveis, seja capaz de recuperar a mágica que os levou a um status de diferenciados. Analisando com alguma paciência, é possível ver a quantidade necessária de ouro, para ser definido como precioso, em cada um deles.
Alguma boa alma pode interceder por Bernardo(25 anos) e Jóbson(28 anos). E eu lhes direi que já é querer muita paciência, mais do que cabe em um monge tibetano, e que o contra-argumento parece obra de algum alquimista estelionatário.
Aliás, por onde anda o Rafinha?

segunda-feira, 7 de março de 2016

Os 23 genros de Dunga



O saudoso João Saldanha dizia que queria jogador para resolver dentro de campo, não para casar com uma filha sua. Sábio João sem medo. O jornalista e ex-técnico da seleção brasileira sabia que a personalidade era determinante para gerar lances imprevisíveis e típicos do DNA do atleta brasileiro. Robôs criam por programação. Foi assim que selecionou suas feras para a Copa de 1970; foi desse jeito que deslocou jogadores, administrou egos e preparou o terreno para a administração sucessória de Zagallo. João tinha consciência de que não era um general e seus comandados não eram soldados rasos. O selecionado brasileiro não era uma extensão da ditadura vigente daquela época (até dizem os teóricos da conspiração que o escrete canarinho se tornou a partir da convocação de Dadá Maravilha). Ele buscava um grupo de homens, na mais profunda acepção da palavra.
As convocações de Dunga apontam para uma procura incessante de vinte e dois genros ou um grupo disposto a candidatar-se a um seminário para padres. Caso um jogador dê um depoimento que o contrarie, pode ter certeza, está fora das convocações seguintes. As atitudes fora de campo também eriçam os pelos do técnico da seleção. Romário, Renato Gaúcho, Edmundo, Sócrates, Djalminha, entre outros, nunca teriam jogado pelo Brasil se ele fosse o comandante. Recentemente, Dunga se aventurou até a dar pitacos na situação fiscal de Neymar. Não chega nem perto do que deve ser o papel dele como líder de uma seleção nacional. As atitudes gerais apontam para insegurança e para o desejo de lembrar a todo instante quem manda no grupo.
Corta para 1990. O jovem Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, de 27 anos, compensava sua falta de técnica com uma vitalidade magnífica e com uma liderança natural. Sebastião Lazaroni, o técnico da época, pregava um jogo mais moderno, um tipo de tática mais defensivista, com o uso inédito de três zagueiros (um deles como líbero), alas como pontas e volantes mais viris. O teórico fracasso de Telê Santana, nas copas de 1982 e 1986, agora pagava o preço. Com juros. O resultado disso é que o desavisado Dunga virou símbolo de um período obscuro do futebol nacional. Período este que resultou em atuações pífias e em uma derrota imperdoável, na visão de torcedores e analistas, para a Argentina. A punição e responsabilização do jogador durariam quatro anos, pois somente na Copa de 1994 ele conseguiria, com o protagonismo de Bebeto e Romário, a sua redenção pela via do tetracampeonato.
Voltemos para 2015. Em uma noite de novembro, uma segunda, no programa “Bem, Amigos!”, da SporTV, o goleiro Jefferson, do Botafogo, resolveu emitir sua opinião sobre sua barração do time titular do Brasil e uma falha no jogo contra o Chile, pelas eliminatórias da Copa de 2018.
Avancemos para os dias atuais. Dunga iria anunciar os nomes dos 23 atletas que disputarão os jogos contra Uruguai e Paraguai, respectivamente, nos dias 25 e 29 de março. Surgem os nomes de Alisson, Marcelo Grohe e Diego Alves. Nenhum deles em melhor momento que o goleiro do Botafogo. Jefferson jamais pode ficar fora de qualquer lista séria da seleção. Ele ficou ausente por ter ousado arriscar uma opinião dentro de um grupo que só reverbera o que seu líder fala. Se havia algum ruído entre Dunga e o goleiro, a coisa podia ter sido resolvida com uma conversa ao pé do ouvido entre os dois. Em suma, fica a impressão de que o arqueiro só ficou de fora porque não quis se candidatar ao posto de genro do técnico gaúcho.