O
saudoso João Saldanha dizia que queria jogador para resolver dentro de campo,
não para casar com uma filha sua. Sábio João sem medo. O jornalista e ex-técnico
da seleção brasileira sabia que a personalidade era determinante para gerar
lances imprevisíveis e típicos do DNA do atleta brasileiro. Robôs criam por
programação. Foi assim que selecionou suas feras para a Copa de 1970; foi desse
jeito que deslocou jogadores, administrou egos e preparou o terreno para a
administração sucessória de Zagallo. João tinha consciência de que não era um
general e seus comandados não eram soldados rasos. O selecionado brasileiro não
era uma extensão da ditadura vigente daquela época (até dizem os teóricos da
conspiração que o escrete canarinho se tornou a partir da convocação de Dadá
Maravilha). Ele buscava um grupo de homens, na mais profunda acepção da
palavra.
As
convocações de Dunga apontam para uma procura incessante de vinte e dois genros
ou um grupo disposto a candidatar-se a um seminário para padres. Caso um
jogador dê um depoimento que o contrarie, pode ter certeza, está fora das
convocações seguintes. As atitudes fora de campo também eriçam os pelos do
técnico da seleção. Romário, Renato Gaúcho, Edmundo, Sócrates, Djalminha, entre
outros, nunca teriam jogado pelo Brasil se ele fosse o comandante. Recentemente,
Dunga se aventurou até a dar pitacos na situação fiscal de Neymar. Não chega
nem perto do que deve ser o papel dele como líder de uma seleção nacional. As
atitudes gerais apontam para insegurança e para o desejo de lembrar a todo
instante quem manda no grupo.
Corta
para 1990. O jovem Carlos Caetano Bledorn Verri, o Dunga, de 27 anos, compensava sua falta
de técnica com uma vitalidade magnífica e com uma liderança natural. Sebastião
Lazaroni, o técnico da época, pregava um jogo mais moderno, um tipo de tática
mais defensivista, com o uso inédito de três zagueiros (um deles como líbero),
alas como pontas e volantes mais viris. O teórico fracasso de Telê Santana, nas
copas de 1982 e 1986, agora pagava o preço. Com juros. O resultado disso é que o
desavisado Dunga virou símbolo de um período obscuro do futebol nacional.
Período este que resultou em atuações pífias e em uma derrota imperdoável, na
visão de torcedores e analistas, para a Argentina. A punição e
responsabilização do jogador durariam quatro anos, pois somente na Copa de 1994 ele conseguiria, com o protagonismo de Bebeto e Romário, a sua redenção pela
via do tetracampeonato.
Voltemos para 2015. Em uma
noite de novembro, uma segunda, no programa “Bem, Amigos!”, da SporTV, o goleiro
Jefferson, do Botafogo, resolveu emitir sua opinião sobre sua barração do time
titular do Brasil e uma falha no jogo contra o Chile, pelas eliminatórias da
Copa de 2018.
Avancemos para os dias
atuais. Dunga iria anunciar os nomes dos 23 atletas que disputarão os jogos
contra Uruguai e Paraguai, respectivamente, nos dias 25 e 29 de março. Surgem
os nomes de Alisson, Marcelo Grohe e Diego Alves. Nenhum deles em melhor
momento que o goleiro do Botafogo. Jefferson jamais pode ficar fora de qualquer
lista séria da seleção. Ele ficou ausente por ter ousado arriscar uma opinião dentro
de um grupo que só reverbera o que seu líder fala. Se havia algum ruído entre
Dunga e o goleiro, a coisa podia ter sido resolvida com uma conversa ao pé do
ouvido entre os dois. Em suma, fica a impressão de que o arqueiro só ficou de
fora porque não quis se candidatar ao posto de genro do técnico gaúcho.
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