quinta-feira, 10 de março de 2016

"Ouro de tolo"



Por conta de sua cor amarelo-dourada e seu brilho metálico, a pirita, um dissulfeto de ferro, recebeu o apelido de “ouro de tolo”. Todavia, ironicamente, as piritas podem conter alguma quantidade de ouro verdadeiro, o que as pode tornar valiosas. 
Outros mais ligados às ciências místicas poderão argumentar que o “ouro de tolo” também é uma expressão utilizada para falar das promessas de falsos alquimistas, que alegavam ter a capacidade de conjurar ouro através de metais menos preciosos.
Alguns mais podem acrescentar que o termo batizou a debochada e sinuosa canção de 1973 do cantor baiano Raul Seixas.
Em suma, todas as opções anteriores são verdadeiras e servem para ilustrar o ponto que desejo atingir. E o ponto seria o brilho intenso de alguns jogadores brasileiros no alvorecer de suas carreiras. No entanto, vemos essas trajetórias estancarem em atuações irregulares, em páginas policiais, em clubes de menor porte, nos departamentos médicos da vida, nas casas de show da moda e nas camas das profissionais mais antigas do mundo. E o gênio de ontem se verte na figurinha amarelada do fundo do baú de recordações ou em um "Que fim levou?" do Milton Neves.
O maior exemplo desse tipo de atleta talvez seja Adriano. Atacante forte, de chute potente e de arrancadas, o atacante de origem rubro-negra encantou a torcida e o técnico Zagallo, que descolou uma vaga para ele na seleção quando voltou como coordenador. Virou nome indispensável nas convocações da última encarnação de Carlos Alberto Parreira à frente do escrete canarinho. Adriano teve passagens marcantes pelo Flamengo, Internazionale e na seleção brasileira da Copa das Confederações de 2005. Parecia o herdeiro natural de uma camisa 9 já vestida por Careca, Reinaldo e Ronaldo. Ledo engano. 
Depois da morte do pai e do fracasso na Copa do Mundo de 2006, o outrora Imperador desandou a encarnar uma versão moderna e tresloucada de Garrincha, outro com sérios problemas com mulheres e bebidas. O último sopro de Adriano foi a conquista do Campeonato Brasileiro de 2009, onde, debaixo de muitas vistas grossas da administração Patrícia Amorim, dividiu a responsabilidade do êxito com Petkovic. O que veio adiante foram passagens frustrantes por Roma, Corinthians e Atlético-PR. Em 2016, aos 34 anos, o jogador tenta mais um reinício no Miami United, dos EUA. Ansiosas, a pá e a vassoura tremem nas mãos da lógica, que espera para recolher os cacos do que a noite e alguma versão da Vila Cruzeiro deixarem sobrar.
Em 1987, o segundo nome dessa lista surgiu no diminuto Tomazinho(RJ) como um obscuro zagueiro, apesar do tamanho inadequado para essa função, e passeou por seis posições diferentes, sempre exibindo uma técnica muito acima da média. Defendeu 14 clubes ao longo de sua carreira de andarilho das quatro linhas. Em determinada ocasião, Telê Santana declarou que o jogador possuía mais potencial que o italiano Franco Baresi. Trata-se do multihomem Válber Roel de Oliveira, um craque quando estava disposto a praticar futebol. 
Ainda que atuasse na defesa, Válber era daqueles jogadores que raramente acionavam o bico da chuteira ou faziam a bola ganir. Seguro e com classe, colocava-se muito bem na área e tinha um passe seguro para acionar a zona de criação. Ganhou títulos importantes com o poderoso São Paulo e com o esquadrão vascaíno, respectivamente, no começo e no fim da década de 90. Sem nenhum tipo de lobby, poderia ter atuado até quando quisesse na seleção brasileira. Contudo, os sumiços dos treinos e o gosto por farras fizeram que ele entrasse em franco declínio já aos 30 anos. Arrastou-se por um período no Fluminense, no Santos, no Coritiba e em times de menor expressão. Um pouco mais tarde, o dono de dois mundiais, três libertadores e um brasileiro só era lembrado para exibições com atletas que ganharam o tetracampeão. A oportunidade de um canto do cisne digno veio com o convite do América em 2006. Sob o comando do técnico Jorginho, atualmente no Vasco, o zagueiro relembrou seus melhores momentos e liderou o alvirrubro até a semifinal daquele ano, eliminando, inclusive, o Botafogo. Como treinador, Válber dirigiu o Audax-RJ até o começo de 2014.
A medalha de bronze dos desperdícios pode ser colocada no pescoço do goleiro Bruno. Capitão do Flamengo, altamente cotado para a seleção brasileira e com uma negociação em andamento com o Milan, o jogador envolveu-se em um caso de assassinato, em 2010, soterrando, em pleno auge, a carreira de futebolista. Sem qualquer tipo de sucesso, o jogador vem tentando ganhar uma segunda chance e retomar a carreira em Minas Gerais.
Em uma pesquisa feita pelo Twitter, eu perguntei aos seguidores quais seriam, além dos que listei, os maiores desperdícios do futebol brasileiro. Sem ter o intuito de listar todos os nomeados como craques interrompidos por diversos motivos, eu queria apenas nomeá-los como jogadores que poderiam ter uma história muito melhor no esporte. Surgiram nomes como Jean Chera, Lenny, Jobson, Bernardo, Marinho, Josimar, Lopes e Jardel.
A voz do povo virtual também citou Walter, Paulo Henrique Ganso, Breno e Alexandre Pato, todos eles com 26 anos, como exemplos de carreiras superestimadas. Eu creio que seja muito cedo para duvidar desses relacionados. Sempre é possível que algum Telê Santana, conhecido por recuperar esportistas dados como irrecuperáveis, seja capaz de recuperar a mágica que os levou a um status de diferenciados. Analisando com alguma paciência, é possível ver a quantidade necessária de ouro, para ser definido como precioso, em cada um deles.
Alguma boa alma pode interceder por Bernardo(25 anos) e Jóbson(28 anos). E eu lhes direi que já é querer muita paciência, mais do que cabe em um monge tibetano, e que o contra-argumento parece obra de algum alquimista estelionatário.
Aliás, por onde anda o Rafinha?

Nenhum comentário:

Postar um comentário