“Quanto
você fez no Cartola?”
Em
uma terça-feira ou em uma sexta-feira, antes mesmo de um bom dia, essa pode ser
a primeira frase que você ouvirá em um ambiente de trabalho, na escola ou na
rua. E a resposta pode resultar em risos de escárnio ou um olhar que abriga
admiração e espanto. O exímio jogador de Cartola FC pode ter mais crédito na
praça do que um chefe de estado brasileiro (se bem que isso não representa nada
nos dias de hoje). Meninos e meninas fazem do jogo alguma coisa em que o gênero
não tem a menor importância. Independente do sexo, alguns deles passam as horas
que antecedem os jogos buscando a alquimia ideal para colocar seu nome no topo
da tabela.
Criado
e mantido pela Globo.com, o Fantasy Game surgiu no ano de 2005. Como o próprio
nome já denuncia, o jogador atua como um dirigente de futebol que, baseado na
realidade dos jogos do Campeonato Brasileiro, tem a função de montar a equipe
com a quantia inicial de Cem Cartoletas (a moeda do Fantasy Game). O poderio
financeiro pode ser ampliado conforme o jogador consegue obter êxito com as atuações
dos atletas escolhidos ( Como funciona: Sistema de Pontuação ) .
Já
no ano de estreia, os jogadores apostavam suas fichas em jogadores que
ampliariam a sua capacidade de competir e que seriam “de confiança” pelo que se
via nos gramados. Era o ano em que Petkovic (Fluminense), Romário (Vasco),
Fernandão (Internacional), Alex Dias (Vasco), Róbson (Paysandu), Tevez
(Corinthians) e os defensores Rogério Ceni (São Paulo), Gabriel (Fluminense) e
Juan (Fluminense) faziam a festa dos competidores. Era um jogo sob medida para
os amantes de futebol. Apenas eles, os viciados das quatro linhas, ganhavam um
novo clubinho no quintal das disputas futebolísticas.
De
uns anos para cá, o Cartola deixou de ser um jogo para os entendidos em
futebol. Há um fanatismo que se infiltra até entre pessoas que desconhecem a
dinâmica do esporte bretão. E trouxe uma curiosidade com essa popularidade:
mais vale pontuar no joguinho do que torcer para seu próprio time de coração se
dar bem na rodada. Se o clube pelo qual você torce não vai bem das pernas, não
há mal nenhum em trazer uma das peças de um arquirrival para integrar sua
escalação. E esse adversário histórico pode até ganhar a torcida de alguém que
o detesta se isso puder gerar uma pontuação maior. Segundo a lógica atual, pior
mesmo é ser superado no jogo por algum amigo que tenha o hábito da jogatina.
Um
time deixou de vencer, empatar ou perder. Pela ótica dos praticantes, o que
acontece agora é que um clube fortalece ou afunda um usuário. Por exemplo,
apostando em uma boa performance do Botafogo, que vinha de boas exibições, os
competidores povoaram suas escalações com jogadores do alvinegro contra o Avaí.
Acabou com vitória do clube de Santa Catarina, que nunca foi tão xingado por
trair um pacto que nunca selou. E temos outras amostras: o jogador que tomou
cartão, o que foi substituído, o que marcou gol contra ou o que foi apático em
campo. São modelos de coisas que enervam o espectador moderno.
O
entretenimento ficou tão popular que até os jogadores pedem para ser escalados
ou prometem ter bom desempenho nas partidas. Eles também jogam e se alfinetam
com base nos dados estatísticos. A Globo e o Sportv – muito por conta de
ser um produto criado pelo seu grupo – exibem os pontos dos atletas de destaque
como complemento de sua transmissão. Parece que não há mais como ver uma
partida de futebol sem pensar nos pontos acumulados no desenrolar de um ciclo
de embates.
E
uma perguntinha, amigos: que horas fecha o mercado?
Eu jogo, acho divertido, mas nada que me ocupe demais o juízo. Tanto é que sou um péssimo cartoleiro, por não levar muito a sério o que deve ser apenas um entretenimento dentro de um entretenimento.
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