O
Santos jogava contra o Grêmio, pelas quartas de final da Copa do Brasil, quando
o goleiro Aranha começou a ser insultado por uma parte da torcida do Grêmio,
que o agredia com gritos de “macaco” e com imitações toscas do animal. Quando o
fato ocorreu, o goleiro chegou a alertar o árbitro, que mandou o jogo seguir
normalmente. O episódio só ganhou uma dimensão maior por conta da exibição e
alerta gerados pelos canais de TV. Patrícia Moreira, uma torcedora do tricolor,
foi flagrada e acusada junto com mais outros três espectadores. O STJD tomou
providências cabíveis na ocasião. O Grêmio foi eliminado da competição por
conta da atitude rasteira de sua plateia. Não aprenderam nada.
Três
anos se passaram desde o episódio lamentável. O que se esperava era que
houvesse conscientização dessa parcela agressora da torcida gremista. Não foi o
que se viu no último domingo. O arqueiro, agora atuando pela Ponte Preta, escutou
vaias vindas das arquibancadas da Arena do Grêmio nos noventa minutos de
partida. E partiu da maioria dos espectadores. O ato parece demonstrar que a
torcida acredita que Aranha não tivesse o direito de se posicionar perante uma
atitude tão grosseira quanto é o racismo. Em mundo já tão brutalizado e tão
recheado de violência, como as cenas que povoaram São Januário na semana
anterior, o torcedor resolve rabiscar mais um capítulo deplorável na história
recente dos estádios. A bestialidade psicológica, ao contrário do que pensam
alguns, pode ser mais pontiaguda do que a física em algumas passagens.
Com
a cabeça quente por causa da situação, o goleiro observou um cartaz com um
pedido de desculpas, reconheceu o posicionamento diferenciado, mas não voltou
atrás no tom das críticas. “É uma bela intenção. Quem escreveu o cartaz, de
cara você já vê que é uma pessoa diferente das outras que assistem ao jogo
aqui. Infelizmente, o cartaz não reproduz a verdade”, disse o jogador. O
presidente gremista lamentou o entrevero e jogou a responsabilidade no colo de
Aranha, que, na opinião dele, não devia ter reativado a animosidade quando deu
declarações no pós-jogo. "O Grêmio trata o assunto como encerrado. Não foi
justa. Quando o Aranha faz uma manifestação dessa, ele revive. Conseguiu manter
contra ele sempre uma reserva, certa rejeição de quando atuar aqui", falou
Romildo Bolzan, o presidente do Grêmio. Ou seja, o dirigente gremista acredita
que o goleiro deveria ter encarado a violência com silêncio, para ser melhor
recepcionado em outras visitas. Bolzan diz nas entrelinhas que os gestos
antipáticos encontraram uma justificativa. E ele deveria ser o primeiro a refutar
qualquer coisa do gênero.
Para
o arqueiro e outros que sofrem do mesmo expediente detestável do racismo velado,
o argumento indefensável é que, como diz o genial Tom Zé, “vaia de bêbado não
vale”.
_Dois equívocos: da torcida do Grêmio, no episódio anterior, e das palavras do presidente! Não sei qual é o pior.
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