segunda-feira, 17 de julho de 2017

Vaia de bêbado não vale


O Santos jogava contra o Grêmio, pelas quartas de final da Copa do Brasil, quando o goleiro Aranha começou a ser insultado por uma parte da torcida do Grêmio, que o agredia com gritos de “macaco” e com imitações toscas do animal. Quando o fato ocorreu, o goleiro chegou a alertar o árbitro, que mandou o jogo seguir normalmente. O episódio só ganhou uma dimensão maior por conta da exibição e alerta gerados pelos canais de TV. Patrícia Moreira, uma torcedora do tricolor, foi flagrada e acusada junto com mais outros três espectadores. O STJD tomou providências cabíveis na ocasião. O Grêmio foi eliminado da competição por conta da atitude rasteira de sua plateia. Não aprenderam nada.
Três anos se passaram desde o episódio lamentável. O que se esperava era que houvesse conscientização dessa parcela agressora da torcida gremista. Não foi o que se viu no último domingo. O arqueiro, agora atuando pela Ponte Preta, escutou vaias vindas das arquibancadas da Arena do Grêmio nos noventa minutos de partida. E partiu da maioria dos espectadores. O ato parece demonstrar que a torcida acredita que Aranha não tivesse o direito de se posicionar perante uma atitude tão grosseira quanto é o racismo. Em mundo já tão brutalizado e tão recheado de violência, como as cenas que povoaram São Januário na semana anterior, o torcedor resolve rabiscar mais um capítulo deplorável na história recente dos estádios. A bestialidade psicológica, ao contrário do que pensam alguns, pode ser mais pontiaguda do que a física em algumas passagens.

Com a cabeça quente por causa da situação, o goleiro observou um cartaz com um pedido de desculpas, reconheceu o posicionamento diferenciado, mas não voltou atrás no tom das críticas. “É uma bela intenção. Quem escreveu o cartaz, de cara você já vê que é uma pessoa diferente das outras que assistem ao jogo aqui. Infelizmente, o cartaz não reproduz a verdade”, disse o jogador. O presidente gremista lamentou o entrevero e jogou a responsabilidade no colo de Aranha, que, na opinião dele, não devia ter reativado a animosidade quando deu declarações no pós-jogo. "O Grêmio trata o assunto como encerrado. Não foi justa. Quando o Aranha faz uma manifestação dessa, ele revive. Conseguiu manter contra ele sempre uma reserva, certa rejeição de quando atuar aqui", falou Romildo Bolzan, o presidente do Grêmio. Ou seja, o dirigente gremista acredita que o goleiro deveria ter encarado a violência com silêncio, para ser melhor recepcionado em outras visitas. Bolzan diz nas entrelinhas que os gestos antipáticos encontraram uma justificativa. E ele deveria ser o primeiro a refutar qualquer coisa do gênero.
Para o arqueiro e outros que sofrem do mesmo expediente detestável do racismo velado, o argumento indefensável é que, como diz o genial Tom Zé, “vaia de bêbado não vale”.


  

Um comentário:

  1. _Dois equívocos: da torcida do Grêmio, no episódio anterior, e das palavras do presidente! Não sei qual é o pior.

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