quinta-feira, 27 de julho de 2017

Jair Ventura, o Harry Houdini de General Severiano


“Não dá mais para duvidar do Botafogo”
Paulo Vinicius Coelho

Harry Houdini era o pseudônimo adotado por Ehrich Weisz, um mágico de origem húngara. Entre outros feitos ao longo da carreira, Houdini é sempre lembrado como um mestre maior do escapismo, que na ordem dos mágicos seria o truque de se evadir de lugares impossíveis, sempre em posição indefesa. O mágico executou a façanha da Câmara de Tortura Aquática, do Caixão, da Brava Correnteza e vários outros truques com algemas e celas de cadeia.  
Jair Ventura assumiu o Botafogo em agosto de 2016. Quando o treinador assumiu o Botafogo, o clube patinava na 17ª posição do Campeonato Brasileiro. Com um time herdado de Ricardo Gomes, que tinha optado por aceitar um convite do São Paulo, Ventura assumiu com a anuência do grupo. Curiosamente o primeiro adversário dessa nova leva foi o próprio tricolor paulista, em jogo no Morumbi. Com um time de qualidade duvidosa e eleito pelos especialistas como um dos favoritos ao descenso daquela edição, o Botafogo venceu pelo placar mínimo, com um gol de Sassá.
Gomes, o seu antecessor, retirou-se com uma campanha que somava 23 pontos, com 6 vitórias, 5 empates e 8 derrotas, um aproveitamento de 42,59%, que deixava o time na zona de rebaixamento do Brasileirão. Ironicamente tudo isso aconteceu no espaço de um turno, o que nos permite comparar as campanhas de maneira próxima do justo. Assumindo no primeiro jogo do returno, Ventura cravou 36 pontos, com 11 vitórias, 3 empates e 5 derrotas, um aproveitamento de 66%, muito próximo das marcas dos campeões e com credenciamento para a Libertadores-2017. E tudo isso sem a chegada de nomes que pudessem provocar grande comoção entre os torcedores e a mídia. Pautado em uma defesa firme, um Camilo inspirado, um Neilton recuperado e um Sassá brilhando, o mágico Jair executou a primeira de suas proezas e escapou dos lugares comuns para onde tinha sido enviado pelos corvos da degola.
Com as chegadas de Roger, Gatito Fernandez e João Paulo, o Botafogo ganhou novos nomes para o trabalho operário. No entanto, o que mais empolgou o torcedor foi a chegada de Montillo, contratado junto ao Shandong Luneng, da China. Uma cartada que prometia um aumento das jogadas de brilho e de criatividade do alvinegro carioca. A possível dupla com o argentino mexia com a imaginação do torcedor e da imprensa esportiva. Não foi o que se viu ao final, pois, com as constantes lesões de Montillo e a insatisfação de Camilo, o meio prometia se converter uma zona árida, somente habitada por destruições e passes laterais. Viriam mais mágicas do comandante Ventura.
Ao longo da temporada 2017, o Houdini de General Severiano realizou seus maiores feitos na competição mais cobiçada pelas torcidas tupiniquins, a Taça Libertadores. Sempre enfrentando os prognósticos de eliminação precoce, o Botafogo derrubou adversários com uma experiência maior do torneio, tais como Colo-Colo, Olímpia, Estudiantes e Atlético Nacional. As armadilhas sempre foram transpostas pelo bravo ilusionista. Inclusive com os dois primeiros times sendo derrubados em batalhas épicas, decididas pelo eficiente jogo de forte marcação, oferecimento da posse de bola ao rival e saída rápida para finalizar as partidas com a aposta nos contragolpes puxados pelos laterais, Bruno Silva (uma das gratas surpresas desse ano) e Rodrigo Pimpão.
Os atletas são fieis e respeitam todas as marcações do treinador, o que quase sempre garante o êxito ou algo próximo do que é programado. Em ocasiões em que tentou fugir de suas características de forte pegada, em benefício de uma equipe mais criativa, o Botafogo foi batido por rivais considerados menores, o Barcelona-EQU (0-2) e o Avaí (0-2), sempre em embates disputados no Engenhão.
Um novo escapismo foi realizado na Copa do Brasil, onde o Botafogo superou o Atlético-MG pelo placar agregado de 3 a 1. Por conta de um elenco mais encorpado, com cinco selecionáveis e peças como Otero e Cazares, o Galo era visto como favorito por uma parte dos torcedores e da mídia. Até venceu o primeiro jogo, mas não deu conta de segurar um Botafogo que jogou com eficiência e se manteve leal aos seus princípios.

E uma última coisa: alguém lembra primeiro que Jair Ventura é filho de um grande campeão?

3 comentários:

  1. Tira leite de pedra, realmente. Imagino se conseguiria tal desempenho dirigindo um time grande e cheio de "estrelas".

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    1. Já teve gente dizendo que ele não teria o mesmo desempenho. A verdade é que não há como saber. Na década de 90, eu também ouvi muito pessoal dizendo que o Palmeiras de Edmundo e Evair jogava sozinho, que não precisava de um Luxemburgo. O que vimos na sequência foi algo diferente. Acho que ele e Carille vieram para ficar, mas a questão da identificação pode atrapalhá-los no futuro.

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