quarta-feira, 12 de julho de 2017

Quem ganha a vida com a boca é cantor


                É preciso saber lidar com um fato incontestável: o time atual do Vasco é frágil. Muito frágil. O torcedor fica com receio de exercer o seu papel de vibrar e se exaltar. É mais ou menos como se portar com empolgação com A Hora do Brasil ou com a programação da Rádio Relógio.
A defesa toma gols que causam a revolta do mais inexperiente jogador de várzea. Marcam a bola, vão no oponente de primeira e fazem pênaltis que até a cartilha do fraldinha condena. Há algumas peças que soam como pontos fora da curva e conseguem colocar a equipe em um nível de competição, de buscar o resultado, sem show. Martin Silva, Nenê, Douglas e Luis Fabiano são jogadores que fazem a diferença. Mas é preciso lidar com a realidade, saber que há uns dez times ou mais que superam o cruzmaltino em elenco e técnica. Os jogos mandados em São Januário serviriam para deixar a balança mais a favor do mandante. Com o anúncio da interdição do estádio, nem esse fator de desequilíbrio existe mais.
            Na noite de ontem, as redes sociais estavam em polvorosa com a informação de que o BID da CBF havia publicado a rescisão do meia Douglas com o Vasco. O clube rapidamente negou uma transferência em curso. Como nada fica oculto por muito tempo na internet, as redes voltaram à carga e anunciaram que o jogador de 19 anos havia sido adquirido pelo Manchester City, pelo valor de € 13 Milhões (R$ 55,7 Milhões). A venda das revelações se tornaram a principal fonte de receita dos clubes brasileiros. Como em uma loja de shopping, os clubes poderosos da Europa e da China escolhem o que interessa na vitrine e pedem para colocar em uma bela embalagem. Vide o São Paulo, o Fluminense e o Flamengo (Vinicius Junior). Só que para o Vasco não é a venda de um carro de segunda mão, de um sapato, de uma camisa com um jacaré bordado ou de um celular. É a venda de seu melhor jogador. E não só o melhor jogador do elenco, mas também o sujeito que arma, desarma, corre e finaliza. Uma raridade em uma programação em que as contratações não deram certo ou fizeram pouquíssima diferença no estilo de jogo. É só observar Muriqui (que já rescindiu), Wagner (que vem sendo sondado pelo Sport) e Escudero (que é observado pelo Vitória).  Isso com apenas sete meses de clube.
            “Será possível repor as peças com esse dinheiro”, dizem os mais otimistas. Será que é possível confiar na mão de quem já recheou o elenco com elefantes brancos, móveis de segunda mão ou perfumaria de gosto duvidoso? E tem mais: boa parte desse dinheiro (cerca de R$ 20 Milhões) vai para o bolso de Carlos Leite, o empresário que vem auxiliando na montagem do elenco e principal credor do clube.

            Toda estratégia de se manter entre os dez primeiros vai por terra com um time rapinado, lento, apático e sem estádio. Vira presa fácil de quem está falando menos e jogando mais. Como dizia Felipe, o genial ex-lateral-esquerdo do Vasco, “Quem ganha a vida com a boca é cantor”.

3 comentários:

  1. Vai complicar demais sem São Januário... sem jogador de peso... e sem conjunto!

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  2. O vasco segue numa descendente triste. Não vejo nenhum motivo pra alegria dos rivais. Zoeira à parte, o futebol nacional perde muito com isso.

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