“Não dá mais para
duvidar do Botafogo”
Paulo Vinicius
Coelho
Harry
Houdini era o pseudônimo adotado por Ehrich Weisz, um mágico de origem húngara.
Entre outros feitos ao longo da carreira, Houdini é sempre lembrado como um
mestre maior do escapismo, que na ordem dos mágicos seria o truque de se evadir
de lugares impossíveis, sempre em posição indefesa. O mágico executou a façanha
da Câmara de Tortura Aquática, do Caixão, da Brava Correnteza e vários outros
truques com algemas e celas de cadeia.
Jair
Ventura assumiu o Botafogo em agosto de 2016. Quando o treinador assumiu o
Botafogo, o clube patinava na 17ª posição do Campeonato Brasileiro. Com um time
herdado de Ricardo Gomes, que tinha optado por aceitar um convite do São Paulo,
Ventura assumiu com a anuência do grupo. Curiosamente o primeiro adversário
dessa nova leva foi o próprio tricolor paulista, em jogo no Morumbi. Com um
time de qualidade duvidosa e eleito pelos especialistas como um dos favoritos
ao descenso daquela edição, o Botafogo venceu pelo placar mínimo, com um gol de
Sassá.
Gomes,
o seu antecessor, retirou-se com uma campanha que somava 23 pontos, com 6
vitórias, 5 empates e 8 derrotas, um aproveitamento de 42,59%, que deixava o
time na zona de rebaixamento do Brasileirão. Ironicamente tudo isso aconteceu
no espaço de um turno, o que nos permite comparar as campanhas de maneira
próxima do justo. Assumindo no primeiro jogo do returno, Ventura cravou 36
pontos, com 11 vitórias, 3 empates e 5 derrotas, um aproveitamento de 66%,
muito próximo das marcas dos campeões e com credenciamento para a
Libertadores-2017. E tudo isso sem a chegada de nomes que pudessem provocar
grande comoção entre os torcedores e a mídia. Pautado em uma defesa firme, um
Camilo inspirado, um Neilton recuperado e um Sassá brilhando, o mágico Jair
executou a primeira de suas proezas e escapou dos lugares comuns para onde
tinha sido enviado pelos corvos da degola.
Com
as chegadas de Roger, Gatito Fernandez e João Paulo, o Botafogo ganhou novos
nomes para o trabalho operário. No entanto, o que mais empolgou o torcedor foi
a chegada de Montillo, contratado junto ao Shandong Luneng, da China. Uma
cartada que prometia um aumento das jogadas de brilho e de criatividade do
alvinegro carioca. A possível dupla com o argentino mexia com a imaginação do
torcedor e da imprensa esportiva. Não foi o que se viu ao final, pois, com as
constantes lesões de Montillo e a insatisfação de Camilo, o meio prometia se
converter uma zona árida, somente habitada por destruições e passes laterais. Viriam
mais mágicas do comandante Ventura.
Ao
longo da temporada 2017, o Houdini de General Severiano realizou seus maiores
feitos na competição mais cobiçada pelas torcidas tupiniquins, a Taça
Libertadores. Sempre enfrentando os prognósticos de eliminação precoce, o
Botafogo derrubou adversários com uma experiência maior do torneio, tais como Colo-Colo,
Olímpia, Estudiantes e Atlético Nacional. As armadilhas sempre foram
transpostas pelo bravo ilusionista. Inclusive com os dois primeiros times sendo
derrubados em batalhas épicas, decididas pelo eficiente jogo de forte marcação,
oferecimento da posse de bola ao rival e saída rápida para finalizar as
partidas com a aposta nos contragolpes puxados pelos laterais, Bruno Silva (uma
das gratas surpresas desse ano) e Rodrigo Pimpão.
Os
atletas são fieis e respeitam todas as marcações do treinador, o que quase sempre
garante o êxito ou algo próximo do que é programado. Em ocasiões em que tentou
fugir de suas características de forte pegada, em benefício de uma equipe mais
criativa, o Botafogo foi batido por rivais considerados menores, o Barcelona-EQU
(0-2) e o Avaí (0-2), sempre em embates disputados no Engenhão.
Um
novo escapismo foi realizado na Copa do Brasil, onde o Botafogo superou o
Atlético-MG pelo placar agregado de 3 a 1. Por conta de um elenco mais
encorpado, com cinco selecionáveis e peças como Otero e Cazares, o Galo era
visto como favorito por uma parte dos torcedores e da mídia. Até venceu o
primeiro jogo, mas não deu conta de segurar um Botafogo que jogou com
eficiência e se manteve leal aos seus princípios.
E
uma última coisa: alguém lembra primeiro que Jair Ventura é filho de um grande
campeão?