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Foto: Satiro Sodré/SSPress/Botafogo |
Futebol na segunda-feira não traz boas lembranças ao torcedor alvinegro. Só esta afirmação já deveria ter bastado para que eu não fizesse a bobagem de comprar ingressos para assistir Botafogo x Avaí nesta segunda, dia 26. Porém a inocência e o otimismo, claramente exagerado, acabaram me fazendo dar uma caminhada de 20 minutinhos e ir conferir o péssimo jogo de futebol vencido, com seus méritos, pelo Avaí e o abençoado goleiro Douglas Friedrich (não consigo ler esse nome sem lembrar do velhinho ranzinza da animação Pixar). A derrota por si só já seria frustrante. Afinal, perder para o lanterna por um placar de 2 x 0 já é algo irritante. No entanto a organização, ou melhor, a falta de organização da partida foi algo desesperador para quem se dispôs a ir ao Estádio Nilton Santos. E não foram poucos. Algo em torno de 22 mil pessoas frustradas.

A noite tinha tudo para ser de glória. O roteiro começa muito bem escrito com o retorno de dois dos jogadores mais talentosos do time, juntos, após recuperação de problemas físicos que já vinham se arrastando desde o início da temporada. A partida era contra o fraco (fraquíssimo, diga-se) Avaí. Por um instante cheguei a pensar que o técnico Jair Ventura poderia até ter escalado Jefferson para que começasse a pegar ritmo de jogo, tão pouco temido era o adversário. Para ficar ainda mais cinematográfico, uma bela homenagem da torcida para o atacante Roger, ou melhor, para a filha do jogador, protagonista de uma emocionante reportagem produzida pela TV Globo ao longo da semana e que certamente foi adotada como mascote da temporada. Ficou faltando apenas combinar com o Avaí o papel que deveria exercer. E aí que a coisa desandou.
Afim de não escapar de nenhum clichê e já ir dizendo que há coisas que só acontecem ao Botafogo; Eis que o camaronês que nada fez em seis meses de glorioso, resolve acertar tudo que podia em apenas uma noite. E como se não bastasse, em pouco mais de 15 minutos de partida. Soma-se ao fato, nova lesão de Montillo, jogador que chegou a peso de ouro e com status de craque do time e que até o momento pouco fez e tão pouco jogou (e talvez nem jogue mais esse ano - não pela lesão propriamente dita, mas pela sequência de lesões, algo que pode fazer com que o jogador desista de cumprir seu contrato). O Botafogo estava fadado a viver mais uma noite de drama e agonia.
Mudança no esquema que não dá certo
O técnico alvinegro armou um time com apenas dois volantes, Bruno Silva e Rodrigo Lindoso, invés do já bem consolidado esquema com três volantes, com ausência de Matheus Fernandes, poupado e sacrificado para dar lugar a um meio-campo mais ofensivo com Camilo e Montillo e a possibilidade de um triângulo ofensivo formado por Bruno Silva, Roger e Pimpão. No papel tudo bonito. O problema é que na prática o Botafogo não sabe jogar partindo para cima do adversário. O time está bem treinado na arte de jogar fechado na defesa, esperando uma bola de velocidade para ligar ao ataque e matar a partida. Quando resolve jogar diferente, infelizmente não dá certo. E foi exatamente o que aconteceu. Bruno Silva saiu para o jogo e deixou a defesa desprotegida e na primeira oportunidade, logo aos cinco minutos, contanto com uma falha coletiva da defesa, o algoz cruel, Joel, agora atacante do Avaí, abriu o placar.
Com a substituição forçada de Montillo, talvez o técnico Jair pudesse consertar o esquema tático e retornar a sua formação tradicional, colocando Matheus Fernandes de volta ao time. Porém a presença inesperada de um grande público (mais de 20 mil pessoas para um jogo de segunda-feira a noite) parece ter pressionado o jovem treinador a manter seu time no ataque, e por essa razão escolheu Guilherme para tentar salvar o fiasco. Entretanto mais uma vez, pouco mais de 10 minutos após o primeiro gol, foi castigado com mais uma conclusão perfeita do ex. Dessa vez em falha de marcação de Igor Rabello, em noite pouco inspirada. Talvez sua pior partida com a camisa do Botafogo na temporada.
Após a vantagem de 2 x 0 dos visitantes, o jogo ficou sonolento e, com a exceção de duas oportunidades em chute de Arnaldo e um bate-rebate após cobrança de escanteio, nada mais foi produtivo no 1º tempo. O Avaí se limitava a se fechar na defesa, como bom visitante, e errava até mesmo as saídas de bola. A equipe de Florianópolis dava a bola no pé do time da casa e deixava jogar, mas nem assim o Botafogo conseguia chegar com perigo.
A última etapa se resumiu a uma equipe desesperada, tentando e fracassando na criação de jogadas ofensivas, enquanto um visitante acanhado se fechava por completo. O pouco que o Botafogo conseguiu criar esbarrou nas milagrosas defesas do goleiro Douglas, em noite brilhante, e na falta de sorte de seus atacantes. Mesmo assim, não foi nem suficiente para dar emoção ao final da partida. Em um último desespero Jair tirou Camilo e Igor Rabello para a entrada de Leandrinho e Pachu, deixando a equipe com apenas um zagueiro. Por sorte este homem era Marcelo e o jovem zagueiro conseguiu se virar para evitar que a derrota ainda fosse pior.
Vaias ou apoio?
Camilo ao ser substituído causou um pequeno início de tumulto na torcida. Mais uma vez com atuação pouco produtiva, provocou a irá de alguns torcedores, traduzida em vaias. Embora boa parte da torcida alvinegra tenha se mantido firme na promessa de apoiar seus jogadores até o final e ter tentado gritar o nome do meia.
Uma derrota inesperada, triste e com a sensação de que é preciso ligar o sinal de alerta. O glorioso ainda segue vivo na Copa do Brasil, na Libertadores e até mesmo no Campeonato Brasileiro, que está apenas começando. Mas o torcedor já percebeu que nem ainda há muito trabalho pela frente. A esperança é que Jair tenha percebido a mesma coisa.
Ingresso da internet causa atrasos e confusão para acessar o Niltão
O jogo ruim por si só já seria um motivo de desânimo pro torcedor. Entretanto a falta de organização e, talvez a falta de confiança na presença da torcida, fez com que muitos torcedores só conseguissem entrar com o jogo já em andamento e até mesmo com o placar consolidado. Boa parte do problema gerado por uma mudança de política no acesso ao estádio, que dessa vez obrigara a quem adquiriu o ingresso através da internet fazer um processo completamente estúpido e desnecessário. O torcedor era obrigado a ir até a bilheteria validar seu ingresso impresso e trocá-lo por um ingresso de papel, para só então poder entrar no estádio.
Como já estamos no meio da temporada e tal política nunca tinha sido adotada e o clube também não fez com que a informação fosse amplamente divulgada, muitos torcedores desavisados entraram atrasados no jogo. Não perderam nada, é verdade, mas a sensação de maltrato e frustração é algo que o Botafogo não pode se dar ao luxo de proporcionar ao seu torcedor.